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João Alvarenga

O fim do mundo analógico (parte 2)

Essas mudanças já fazem parte do nosso cotidiano e nem percebemos

03 de Fevereiro de 2024 às 22:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

 

Neste artigo, finalizo a reflexão iniciada na semana passada sobre o confronto entre o digital e o analógico. Anteriormente, enfatizei que “profetas virtuais” dão como certo que, num período brevíssimo de tempo, a Inteligência Artificial estará no controle de todas as ações humanas, pois há uma rápida substituição da mão de obra operária pela automação. Muitas categorias já sentem os reflexos dessa metamorfose, que poderá resultar, segundo alguns analistas, no desemprego em massa, com riscos de uma crise humanitária. No entanto, hoje, focarei no quanto essas mudanças já fazem parte do nosso cotidiano e nem percebemos.

Talvez, dentre todos os setores da sociedade, o da comunicação interpessoal foi o que mais sofreu impacto direto do mundo digital. Isso pode ser sentido a partir da interação social em todos os segmentos, pois a conexão entre internet e telefonia móvel rompeu barreiras físicas. Nos anos 90, Alvin Toffler, futurólogo norte-americano, autor da obra “O choque do futuro”, já predizia: “As pessoas vão estar não estando”. Ou seja, pela internet, podemos viajar para qualquer lugar do mundo sem a necessidade de locomoção.

Isso rompeu as fronteiras entre trabalho e ambiente doméstico, pois o home-office invadiu as residências. Os smpartphones deram dinamismo às relações, alterando a forma de interagir dos grupos sociais. Agora, o coloquialismo domina as mensagens enviadas pelo WhatsApp, em favor da agilidade. Aliás, “pressa” é a palavra de ordem no pós-modernismo, pois para o capitalismo é “tempo é dinheiro”.

Mas, que a nova geração não pense que sempre foi assim. A tal “Revolução Digital” demorou a acontecer por aqui. O setor era controlado pelo governo. Os mais antigos de Sorocaba sabem que o telefone fixo reinou por muito tempo. Por ser caríssimo, ter esse benefício era quase impossível. Tanto que, nos anos 80, havia até anúncios, nos classificados do Cruzeiro do Sul, em que se aceitava carro como forma de pagamento por uma única linha. Porém, como o “novo sempre vem”, as operadoras deram fim a uma das categorias mais charmosas que já existiu, as telefonistas.

Quem poderia imaginar que, um dia, teríamos um pequeno aparelho que caberia na palma de nossas mãos e que, com ele, seria possível falar, tirar fotos, jogar videogames, receber e mandar mensagens, além de pagar contas e consultar o estrato bancário? Fazer selfies virou brincadeira de criança e as redes sociais ser tornaram uma vitrine da vida íntima de muitas pessoas. Postam de tudo, expondo-se nos mínimos detalhes. Isso lembra os antigos diários, só que, agora, são digitais e públicos.

Percebeu que muitos hábitos foram transformados pelos bytes? Você ainda guarda suas fotos analógicas em álbuns? Continua mandando cartas para os parentes? Recebeu algum cartão de Natal? Viu, até nosso lazer mudou! A literatura, a música, o teatro, a dança e o cinema incorporaram as novidades da “Revolução Digital”. As opões de lazer são tantas que, às vezes, alguns setores entram em crise. Exemplo: enquanto muitas salas de cinema estão entregues às moscas, as plataformas de streaming se tornaram a grande “febre” do momento, graças à variedade de títulos inéditos e, também, a flexibilidade de acesso.

Na música, quando o toca disco laser chegou ao mercado, muitos apressadinhos venderam a vitrola e se desfizeram do vinil. Hoje, esses discos são raridade nas mãos dos colecionadores. Já na literatura, o e-book, por aqui, parece que não deu muito certo. Isso não é novidade, pois as livrarias amargam prejuízos. Os operadores de telemarketing foram substituídos pela figura do assistente virtual. Mas, isso não pos fim às reclamações. Até a programação das rádios é automatizada. Por isso, temos a impressão de que as músicas se repetem ao longo do dia.

Um último registro: os charmosos cartões de apresentação desapareceram. Agora, é “manda um zap” ou “faz um Pix”. Bom domingo!

João Alvarenga é professor de redação