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Dom Julio Endi Akamine

Jesus é o Filho de Deus

É próprio do Filho de Deus revelar Deus Pai

12 de Janeiro de 2024 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

 

O que queremos dizer quando confessamos: “Jesus é Filho de Deus”?

É preciso entender que “Filho de Deus” é um título que procura responder à pergunta fundamental: quem é e qual é a sua missão?

Podemos considerar Jesus somente numa perspectiva humana. Assim alguns definem Jesus como filósofo, médico, taumaturgo, mestre, fundador de religião etc. No entanto, nenhuma dessas “definições” exprimem com justiça o mistério pessoal do Verbo encarnado. Com efeito, Jesus rompe com todos os esquemas pré-concebidos, por isso, mesmo que seja possível considerá-lo como um filósofo, tal título não é suficiente para exprimir a fé da Igreja: Jesus é muito mais do que um filósofo.

Os Evangelhos nos mostram que Jesus foi considerado “profeta” pelos seus contemporâneos. Esse reconhecimento é testemunhado pelos Evangelhos e pelos próprios apóstolos. No entanto, tanto o NT quanto a teologia preferem outros títulos para falar de Jesus.

Se prestarmos atenção aos Evangelhos constataremos que há títulos que revelam de maneira mais adequada quem é Jesus. Esse é o caso dos títulos de Messias, Filho do Homem, Filho de Davi. Tais títulos nos ajudam a conhecer a identidade pessoal de Jesus porque estão carregados dos significados da preparação profética do Antigo Testamento, dos conteúdos provenientes do próprio Jesus e da confissão de fé da Igreja apostólica.

Vejamos, então, o significado do título “Filho de Deus”.

No ambiente da religião pagã, a expressão “filho de deus” era comumente aplicada aos reis. No império romano, era comum chamar o imperador de Divi filius. O Antigo Testamento usou esse título, proveniente do mundo politeísta, corrigindo-o e enriquecendo-o. Assim a expressão “Filho de Deus” recebeu a ideia de proximidade de Deus, de uma eleição em vista de uma missão específica e, em correspondência, de uma total obediência ao Deus que escolhe e vocaciona.

Aplicado a Jesus, o título “Filho de Deus” assume e eleva em grau máximo esse aspecto da proximidade e da predileção de Deus. Jesus é o Filho, ou seja, está particularmente próximo de Deus e dEle recebe uma missão.

Qual é a missão do “Filho de Deus”? É exatamente a de revelar o Pai. É próprio do Filho de Deus revelar Deus Pai. Assim o título “Filho de Deus” exprime a relação particularíssima de intimidade entre Jesus e o Pai, relação essa distinta de qualquer outra conhecida até então. Com efeito, Jesus ensina os discípulos a orar a Deus como ao Pai, mas sempre diz “meu Pai” e “vosso Pai”, nunca “nosso Pai” (cf. Mt 7,11; Lc 22,29; Jo 20,17).

No batismo e nas tentações, o título “Filho de Deus” se revela com uma originalidade que não deriva do uso que até então se fazia. A voz do céu declara Jesus como “o Filho amado”: a intimidade e a familiaridade de Jesus em relação ao Pai não é o da grandeza e da magnificência, mas a do sofrimento e da fidelidade até o sacrifício por amor.

Com esse título, o NT e a fé cristã mostram que a identidade de Jesus se constitui pela relação particularíssima que há entre Ele e o Pai. Além disso, o título revela, com clareza, que é próprio de Deus o ser Pai (cf. 1Jo 1,22-23). Assim a identidade última e o ser profundo de Jesus só podem ser captados no contexto da sua relação com o Pai.

Por isso, quando afirmamos que Jesus é o “Filho de Deus” nos colocamos diante do mistério de Jesus: este não é somente mais um dos eleitos de Deus, nem somente um dos filhos de Deus, mas é o Filho: a sua relação filial é única, não repetível, plena. De fato, esse título “será, desde o princípio, o núcleo da fé apostólica” (CatIgCat 442).

Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba