Dom Julio Endi Akamine
A benevolência
Esforcemo-nos por ter uma boa vontade, porque sem ela é impossível receber o Príncipe da Paz
Em Belém, os anjos anunciam duas coisas fundamentais: a “glória de Deus” e “a paz aos homens”.
De fato, ninguém dá tanta glória a Deus como o Menino que nasce em Belém e está deitado em palhas: só Jesus, o Verbo Eterno, oferece ao Pai o louvor perfeito, infinito, digno de Deus.
Ao mesmo tempo, só Jesus Salvador dá aos homens e mulheres a paz que tanto desejam. Todos nós desejamos a paz verdadeira. Não nos contentamos somente com a ausência de guerras, a superação da criminalidade e insegurança. Tudo isso é bom e desejável, mas não é suficiente para satisfazer nosso desejo de paz. A paz que o Menino de Belém nos traz é a que brota da nossa reconciliação com Deus e entre nós: Deus é nosso Pai, e os outros são nossos irmãos. Essa é a paz que desejamos com todas as forças do nosso coração. A grande paz que nós necessitamos é justamente esta: as boas relações com Deus.
O Natal proclama a paz porque, pelo nascimento de Jesus, Deus nos oferece o perdão dos pecados e ainda a filiação divina. Não somente somos restabelecidos na amizade com Deus, mas também somos introduzidos na relação do Verbo de Deus encarnado. O Criador se torna nosso Pai, e nós nos tornamos seus filhos.
Quando os anjos cantam “paz na terra aos homens de boa vontade” anunciam o Pai Celeste que perdoa os pecados e nos acolhe como filhos no Filho Jesus. Esta é a benevolência divina que se inclina e se derrama sobre a nossa humanidade, oferecendo-nos a paz.
Jesus é o Príncipe da Paz porque Ele não só anuncia, mas principalmente porque Ele é em pessoa a nossa paz com Deus e com os outros. De fato, se todos nós somos filhos de um único Pai, isso significa de todos somos realmente irmãos entre nós. Deus não é o tirano que nos oprime, nem é o patrão que nos escraviza. É o Pai que nos ama e nos dá o seu Filho amado. O outro não é meu inimigo a quem devo destruir, nem o concorrente a quem devo vencer. O nascimento de Jesus nos faz ver que o outro é meu irmão a quem devo amar e com quem vou me salvar.
A benevolência divina espera e solicita a nossa boa vontade. Com efeito, os anjos proclamam: “paz na terra aos homens de boa vontade”. Se a benevolência de Deus consiste em sua boa vontade para conosco, nós só podemos responder a Deus com semelhante “boa vontade”.
Esforcemo-nos por ter uma boa vontade, porque sem ela é impossível receber o Príncipe da Paz. Sem boa vontade colocamo-nos longe da benevolência divina, e a paz permanecerá uma oferta sem acolhida, uma dádiva sem quem a receba, uma mão aberta sem outra para a apertar.
Lembremo-nos que a vontade só é boa se for reta, se estiver orientada sincera e totalmente para o bem. Se nossa vontade estiver voltada para o mal, a paz será impossível. Sem uma adesão do coração ao bem, a vontade não é boa, e a paz desaparecerá de nossa vida. A vontade é boa quando está disposta a aderir prontamente ao bem e decidida a enfrentar as dificuldades e sacrifícios que a prática do bem exige.
A cada momento e nas coisas mais insignificantes, Deus solicita a nossa benevolência.
A atitude dos pastores nos ensina a corresponder com boa vontade à benevolência divina: logo que ouviram o anúncio do Anjo, deixaram o descanso e os rebanhos para ir às pressas e com grande alegria ao encontro do Menino deitado na manjedoura. Foram os primeiros a encontrar o Príncipe da Paz e a se alegrar com sua paz.
Meu caro irmão, minha cara irmã, corramos também nós, hoje e sempre, com boa vontade ao encontro daquele cujo nome é “Conselheiro Admirável, Deus forte, Pai dos Tempos Futuros, Príncipe da Paz” (Is 9, 5).
Feliz Natal!
Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba