João Alvarenga
Rescaldos do Pisa (parte 2)
(...) é notório que nosso sistema educacional precisa ser revisto com urgência
No domingo passado, fizemos uma análise sobre as possíveis razões do pífio desempenho de nossos estudantes no Pisa -- sigla inglesa para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes. Hoje, vamos investigar os segredos do sistema educacional de Singapura, apontado como o país com a melhor educação do planeta. Tanto que, de um total de 81 nações participantes, ficou em primeiro lugar no certame, com altíssimo desempenho em matemática, ciências e leitura. Já o Brasil, infelizmente, mais uma vez obteve uma média bem abaixo do que preconiza a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Logo, é notório que nosso sistema educacional precisa ser revisto com urgência, a fim de que nossos estudantes não só melhorem o rendimento escolar, mas recebam um ensino de qualidade.
Para isso, é importante observar os métodos desenvolvidos pelos países que apresentam bons resultados, para que possamos encontrar nosso próprio caminho. Claro que não devemos achar que tudo que dá certo em determinado país pode funcionar perfeitamente aqui. No passado esse pensamento foi desastroso; afinal, nossa realidade é bem adversa e complexa. No entanto, é preciso investigar as estratégias que outras nações, para chegarmos ao nível de excelência que tanto almejamos. Nesse contexto, é inegável que Singapura é uma referência.
Com uma população estimada em pouco mais de cinco milhões de habitantes, esse país do sudeste asiático, há cinco décadas, investe pesado em educação, numa ação que inclui contínuo aprimoramento profissional. Talvez, esses sejam os segredos de Singapura: continuidade das ações e aperfeiçoamento do corpo docente. Por isso, destaca-se na formação de crianças e jovens. Seus educadores utilizam como pilar do conhecimento a palavra “fundamento”, com foco no “domínio da matemática”. Mas, a formação escolar não fica restrita apenas à escola, pois os alunos, da pré-escola ao ensino médio, têm horas a mais de estudo na casa, com professores particulares.
Além disso, antes de aprender um conteúdo novo, os alunos daquele país precisam entender o propósito do que será ensinado e sua funcionalidade. Também são estudadas as várias linguagens existentes, com destaque para a linguagem “lógico-matemática”, a fim de estimular o raciocínio lógico. É evidente que o bom comportamento dos alunos contribui para o aprendizado. Detalhe: as escolas estimulam a criatividade dos estudantes, bem aos moldes do que específica o comunicado do Pisa: “As provas não só avaliam se o estudante pode reproduzir os conhecimentos adquiridos, mas se é capaz de ir além do que aprendeu e aplicá-los em situações pouco familiares e fora da escola”.
Outro ponto que chama a atenção em Singapura é o fato de o sistema educacional ser unificado, ou seja, todos os professores estão vinculados ao Instituto Nacional de Educação, entidade responsável pela preparação dos docentes. Ou seja, nenhum professor coloca os pés na sala de aula antes desse treinamento. Com isso, os professores singapurianos são apontados como profissionais de alta qualificação, que desenvolvem abordagens pedagógicas consistentes, para um aprendizado seguro.
Além disso, vários sites especializados em educação apontam que não só o governo, mas a sociedade valoriza e respeita muito o trabalho dos educadores. Aliás, isso faz parte da cultura do povo. Tanto que as novas gerações sentem o desejo de seguir a carreira de mestre, que é vista como uma atividade reconhecida. Isso porque a população tem forte compromisso com o sucesso educacional do país. Por isso, as autoridades buscam a excelência.
Mas, é bom esclarecer que o sucesso que os alunos de Singapura obtém, atualmente, nos estudos, é fruto de quatro grandes reformas educacionais, logo após a separação da Malásia, em 1965, num trabalho contínuo, que colocou a educação como a base para o desenvolvimento econômico do país. Bom fim de semana!
João Alvarenga é professor de redação