Nildo Benedetti
Filmes da Netflix: ‘Escândalos na Igreja A Luz do Mundo’ (parte 2 de 3)
Encerrei o artigo da semana passada escrevendo sobre a atuação de algumas igrejas cristãs. Elas confrontam diretamente o versículo de Mateus 21:13: “A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões”.
O abuso de menores ocorreu em profusão também nas igrejas católicas de vários países. Sugiro ao leitor que assista ao documentário “No caminho da cura”, também disponível na Netflix, que trata do abuso de meninos pelos líderes religiosos católicos nos Estados Unidos.
Mas, voltemos ao documentário “Escândalos na Igreja A Luz do Mundo”. De todos os fatos religiosos envolvendo dinheiro, bens, influências políticas, entra em debate uma questão jurídica: de um lado, a liberdade religiosa prevista em lei; de outro, a proteção do patrimônio particular do fiel (violado pelo estelionato religioso) e a proteção da saúde pública (violada pelo charlatanismo religioso). Exemplos desses crimes não faltam e podemos citar alguns: o do pastor André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha que, dizendo ter recebido uma revelação divina, incita os fiéis a exterminarem “gays”; o charlatanismo do “apóstolo” Valdemiro, da Igreja Mundial do Poder de Deus, que prometeu a cura do câncer a um fiel aposentado mediante uma doação de valor equivalente a sete meses de sua pensão; o irmão de Valdemiro, pastor Vanderlei, prometeu a cura da Covid 19 por meio de sementes vendidas a mil reais, mas que não evitaram sua morte pela doença.
Em seus templos, esses líderes religiosos assumem o papel de um Deus vingador que julga e berra ameaças. Supostamente operam curas milagrosas e fazem exorcismos teatralizados. São indivíduos que apresentam interpretações alegóricas ou metafóricas criativas da Bíblia para direcionar o rebanho para a ideologia que defendem. Muitos são milionários gananciosos por dinheiro. Em sua doutrinação, preferem utilizar as fontes do Velho Testamento, porque nele é sempre possível encontrar uma passagem que, astutamente interpretada, confirma sua ideologia e ajuda-os a encher seus bolsos.
Mas, o maior delito cometido por esses líderes religiosos contra o cristianismo é o de levar os fiéis a aceitar ideias que conflitam com a própria doutrina cristã. Implantam, no coração de seus fiéis, a intolerância, o ódio contra opositores políticos e religiosos, gays, muçulmanos etc. Tornam-se insensíveis ao sofrimento alheio e alguns chegam a alegar que, se alguém tem muito e o outro não tem nada, é porque Deus assim o quer e, portanto, não há nada a fazer. Muitas vezes esses sentimentos odientos são expressos com fala mansa e aparentemente piedosa.
Esses atos e palavras anticristãs levam uma parcela do público a generalizar a ideia de que líderes religiosos não passam de impostores que incitam pessoas a acreditar que, doando dinheiro ou bens à igreja, estarão fazendo o bem e servindo a Deus, podendo assim alcançar algum benefício terreno por meio de um milagre. Contudo, a generalização da imagem de que todos os líderes religiosos sejam trapaceiros e farsantes é totalmente injusta com aqueles muitos que se empenham seriamente, com base nos ensinamentos de Cristo, em propagar o amor ao próximo, a compaixão, o perdão, a caridade e oferecem o conforto espiritual de que o ser humano tanto necessita diante dos tropeços da vida.
Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec