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Vanderlei Testa

Biscoitos de gengibre e panetones

11 de Dezembro de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: ARTE: VT)

 

Estamos em dezembro e, nessa ocasião, alguns canais de TV focam a programação em filmes com temas natalinos, durante 24 horas, para quem deseja “maratonar”. Um desses canais é o “Studio Universal”. Incrível como os roteiristas transformam os episódios em uma sequência de cenas de amor e fraternidade. Se o mundo acreditasse no Menino Jesus -- o real motivo da celebração do Natal -- haveria paz na humanidade. Viver essa realidade cinematográfica do Natal, produzida em estúdios e cenários de neve, faz parte da fantasia humana. O poder do verde das árvores, do vermelho da roupa do Papai Noel, do branco das montanhas cobertas de neve, em vilarejos escolhidos para as filmagens, é mágico. Da mesma forma, as luzes decorando as casas e ruas dos cenários fazem com que os telespectadores sejam inseridos nas histórias com um final feliz.

Entre tantas observações que os nossos olhos acompanham nas histórias, a cozinha das casas merece um atento sentido gastronômico. A tradição norte-americana se faz presente, na maioria absoluta dos filmes, com os biscoitos de gengibre. Decorados com motivos natalinos, crianças, jovens e adultos preparam os biscoitos para serem consumidos durante o mês de dezembro e na noite de Natal. A expressão de satisfação das pessoas, ao comer os tais biscoitos de gengibre, quentinhos, saindo do forno, “ultrapassa” a telinha e dá a sensação de chegar ao nosso olfato, pois sempre que assisto a essas cenas, vivo essa experiência imaginária.

Rebeca Escanhoela tem 28 anos. A sua mãe, Sílvia, me contou que a filha, desde pequena, gostava de ajudar a avó materna, Ziza Guariglia, a enrolar docinhos para os aniversários das crianças da família e, também, trocava muitas informações com a avó paterna, Gracinha, muito hábil na cozinha.

Apaixonada por confeitaria, Rebeca resolveu cursar gastronomia na Faculdade Anhembi Morumbi. Durante o curso, foi para a Espanha, onde frequentou a Les Roches Marbella, em Málaga. Ao encerrar a formação, fez estágio no Olympe renomado restaurante carioca do chef Claude Troigros, permanecendo por três meses nesse sofisticado espaço gastronômico.

Ao voltar para São Paulo, foi convidada a trabalhar no Manioca Iguatemi e, logo depois, convencida de sua vocação na confeitaria, resolveu retornar a Sorocaba para investir numa carreira solo. Muito criativa, a filha de Sílvia e Paulo Escanhoela gosta de pesquisar, assistir a filmes relacionados a datas comemorativas e, assim, buscar novos e diferenciados produtos para apresentar aos clientes. Foi, então, que desenvolveu algumas receitas natalinas, dentre elas, o famoso biscoito de gengibre gingerbread.

Segundo a mãe, a jovem Rebeca nutre um carinho muito especial por esses biscoitos, já que, neles, consegue desenvolver, também, seu trabalho artístico, produzindo e confeitando um a um.

Aproveitei esta semana para conhecer as decorações de Natal nos shoppings. Assim, busquei sentir um pouco dos sonhos das crianças posando para fotos ao lado do Papai Noel, como nos filmes a que assisto. A emoção e a alegria de meninos e meninas, diante do Bom Velhinho de barba nevada, despertam a fantasia dos avós e pais, na mais pura expressão de felicidade. Talvez, seja essa “mágica” que surgiu na Lapônia, uma região do Norte da Escandinávia, com a criação da “Casa do Papai Noel”. A cultura popular, no entanto, indica que essa casa fica na Finlândia, ao norte da Lapônia. A Vila do Papai Noel é visitada o ano todo por turistas que têm, no seu imaginário, o sonho de ver e tocar neste símbolo humano de suas infâncias.

Um dos prazeres gastronômicos dessa época que a população brasileira mais aprecia é saborear o famoso panetone. Algo semelhante ao biscoito de gengibre nos Estados Unidos. No Brasil, há uma marca que é considerada a que produz os mais autênticos panetones no País. Essa empresa familiar também está instalada na região de Sorocaba. Na sua histórica tradição, a família mantém um “fermento guardado há sete chaves” pelos descendentes italianos. A massa, com mais de 65 anos de existência, é mantida em sala refrigerada. É com essa matriz da massa que surgem, a cada ano, mais de 75 milhões de panetones, vendidos em supermercados, lojas e panificadoras do Brasil e de mais de 50 países. Afinal, é um sabor que encanta a todos.

Vanderlei Testa ([email protected]) é jornalista e publicitário; escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul