Marcelo Augusto Paiva Pereira
Aperte o botão...
Tornou-se mais cômodo apertar botões do que agir, pensar e desenvolver por iniciativa própria o conhecimento
Em janeiro deste ano circulou pelos meios jornalísticos a notícia de que diminuiu o Q.I. da nova geração em relação à anterior. Tal constatação, resultante de estudos científicos, também afirmou ser a primeira vez que isso ocorreu desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Seguem os comentários abaixo.
Quando a aludida guerra acabou, os sobreviventes e os políticos que a ela resistiram, precisaram reconstruir todas as cidades e núcleos urbanos destruídos. Um mundo novo surgiu das cinzas e escombros daquela guerra, com novos projetos e expectativas de futuro. Fazia parte desse contexto melhorar a qualidade de vida com as novas tecnologias que surgiam.
Sob o prisma do mundo novo, em setembro de 1959 o cantor americano Earl Grant lançou o álbum “The End”. Uma das músicas se chamava “Push de Button”, a qual se reportava à conduta de apertar o botão em várias ocasiões. Tal música abordava, há mais de 60 anos, os efeitos (ou benesses) ao apertá-lo. A referida foi contemporânea das novas tecnologias que surgiam no pós-guerra.
Os equipamentos elétricos, eletroeletrônicos e automáticos modificaram o “modus vivendi” da população, que passou a ter mais comodidade nos afazeres domésticos, profissionais e no lazer. Os mais diversos bens de consumo apareceram com a promessa de melhorar a vida das pessoas. Tem sido assim até a época atual, com os eletrônicos que tem feito parte de nosso cotidiano.
Apertar botões, antes limitados a acionar equipamentos que dependiam de alguma atividade humana (enceradeiras elétricas, por exemplo), veio a ser a solução às atividades indesejadas por muitas pessoas (redigir um texto, por exemplo). Na época atual, diante das tecnologias que têm se apresentado ao consumidor, tornou-se mais cômodo apertar botões do que agir, pensar e desenvolver por iniciativa própria o conhecimento, as pesquisas escolares e outros afazeres.
As imagens produzidas nos aparelhos celulares, laptops e outros, providos de telas e teclados não se fixam na memória nem a desenvolvem, o que faz os usuários, inclusive crianças e adolescentes, perderem a oportunidade de assimilar maiores informações e conteúdos se prestassem atenção às obras impressas, desenvolvessem habilidades manuais e exercitassem atividades esportivas e intelectuais.
Aos cientistas e especialistas em neurolinguística, os efeitos são a mitigação do pensamento elaborado, a alienação cultural, redução da linguagem, dificuldade de expor pensamentos e de escrever, a limitação de raciocínio lógico e a redução da comunicação e de contato com outras pessoas decorrentes do uso desmedido daqueles equipamentos.
Conclusivamente, desde o fim da Segunda Guerra Mundial a tecnologia se desenvolveu para melhorar a vida das pessoas. O progresso, porém, fez com que a geração atual se torne refém da tecnologia, dela dependente para muitas tarefas que poderiam realizar sem usá-la, mas preferiram apertar botões. Se assim continuar, qual será o Q.I. das gerações vindouras? Se quiser saber a resposta, aperte o botão... Ou não. Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista