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Nildo Benedetti

Filmes da Netflix: ‘Homens comuns’ (parte 4 de 6)

23 de Novembro de 2023 às 23:01
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O livre arbítrio nem sempre é tão livre assim
O livre arbítrio nem sempre é tão livre assim (Crédito: PINTEREST)

Terminei o artigo da semana passada escrevendo sobre a psicologia de grupo.

O indivíduo exibe seus desejos mais íntimos sem inibições e passa por transformações de comportamento que podem se tornar radicais. Como consequência, aflora tudo o que é mau na mente humana e que está contido ali como uma propensão. Desaparecem ou se transformam, nessa ocasião, sua percepção do que é moralmente certo ou errado, seu sistema de valores morais, suas convicções, seu discernimento, seu senso de responsabilidade. O indivíduo desce, então, vários degraus na escada da civilização.

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O que escrevi até aqui explica o fato de que, nas relações sociais, a violência sempre esteve presente. No nazismo, o genocídio era inerente à sua essência, que consistia no extermínio daqueles que impediam o desenvolvimento da civilização ciganos, judeus, homossexuais, russos etc. Com isso deixou um rastro de destruição que levou à morte mais de 80 milhões de pessoas. O retorno do nazi-fascismo nos dias de hoje, que se espalha pelo mundo, tem outras justificativas políticas e econômicas, mas o que realmente o impulsiona e que o torna atraente é a possibilidade de dar legitimidade à manifestação da agressividade inerente ao ser humano. O comunismo defende a construção de uma sociedade baseada na igualdade e na superação do capitalismo, mas, na sua implementação pelo mundo no século 20, produziu morticínios em massa que contrariam a própria doutrina. O cristianismo, que á baseado no amor ao próximo, também patrocinou, em nome de Jesus Cristo, assassinatos na Inquisição e, com especial crueldade, nas Cruzadas e na Inquisição.

Durante séculos, as leis, os castigos, as punições, as obras de grandes pensadores, as instituições humanas - incluindo as religiosas, com suas promessas de bem-aventurança e ameaças de castigo eterno - foram incapazes de conter, e nem sequer atenuar, a agressividade inerente ao ser humano.

Isto ocorre porque nosso livre-arbítrio é muito limitado. Mas, por que nosso livre-arbítrio é limitado?

Em primeiro lugar, porque nosso inconsciente á incontrolável, como escrevi nas três partes anteriores desta série. Mas, também somos frutos de fatores genéticos, sobre os quais temos controle muito limitado. Além disso, somos forçados a nos adaptar ao meio em que vivemos nossa vida privada e pública.

Se tudo isto já não fosse suficiente para minar nossas livres escolhas, entrou em cena, na sociedade contemporânea, a atividade massiva das mídias sociais. Nestas, a verdade e a mentira têm o mesmo peso, porque, como escreveu Umberto Eco, as redes deram palavra a uma “legião de imbecis”, porque promovem qualquer indivíduo a portador da verdade, dando-lhe igual autoridade como a de um vencedor do prêmio Nobel. Esta situação induz à passividade e à perda da capacidade de decidir criticamente e, com isso, reduziu ainda mais nosso livre-arbítrio, além de minar a democracia, porque o exercício da democracia pressupõe que o indivíduo faça escolhas políticas conscientes.

É tudo isso que limita nosso livre-arbítrio e é por isso que o sonho da evolução moral e ética dos seres humanos ao longo da história se mostra irrealizável, a despeito de todos os esforços intelectuais e de todo o sangue derramado para realizá-lo.

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec

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