Há alguns dias aconteceu a violação da igreja Santo Expedito da Paróquia Nossa Senhora da Piedade. O sacrário foi arrombado, as hóstias espalhadas, os vasos sagrados foram furtados e, depois de destruídos, jogados no lixo.

Quando acontece uma profanação de igreja, é preciso fazer uma reparação mediante uma celebração penitencial. Os cristãos respondem ao desprezo e à injúria cometidos contra uma igreja fazendo penitência e buscando ainda mais vigorosamente a conversão do coração. Não devemos pagar o mal com o mal, mas vencer o mal com o bem. Fazemos penitência inclusive pelos autores do delito. Deles esperamos o melhor: a conversão. Para eles desejamos o melhor: o perdão dos pecados e a salvação.

A celebração de desagravo foi presidida no dia 7 pelo arcebispo, porque não é somente a comunidade que foi ofendida, mas toda a Igreja Particular de Sorocaba.

No dia seguinte, dia 8, foi celebrada a dedicação de igreja de outra comunidade, a Capela São João Batista do Bairro dos Morros, em Votorantim, e, no dia 9, a Igreja celebrou a festa litúrgica da Dedicação da Basílica do Latrão.

Essas três celebrações, mesmo que em contextos totalmente diferentes, chamam a atenção para o mesmo mistério da presença de Deus.

Um olhar sem fé vê no templo somente pedra, tijolo, cimento, ferro, ornamento, trabalho humano, reunião de indivíduos. O olhar de fé, por outro lado, faz ver o Santo, o Invisível, o Transcendente, a habitação do Espírito Santo, a comunhão dos santos, a unidade do Corpo de Cristo e a Igreja presente no mundo todo. O olhar cristão se dirige ao templo para reconhecer na realidade material do edifício a presença de Deus que deseja comunicar com abundância as suas graças espirituais.

Com efeito, no templo Deus vem ao nosso encontro, nos fala como amigos e se entretém conosco. Nele, Deus prodigaliza os seus bens: o pecador arrependido encontra o perdão; o peregrino recebe o Pão da Vida para seu nutrimento. Na igreja, nos despedimos de nossos amados que partiram para Deus e os confiamos ao Bom Pastor para que os conduza sobre os seus ombros até a casa do Pai. No lugar físico, o Inefável está presente em sinais reais; o Transcendente se revela imanente nos símbolos tomados das coisas criadas; o Três vezes Santo se digna estar misteriosamente presente em realidades do nosso mundo!

Além do edifício material, o olhar da fé se dirige para as pessoas que se reúnem no templo, para a comunidade dos fiéis e a comunhão dos santos. Experimentamos no lugar sagrado que a própria assembleia litúrgica é obra de Deus: não fomos nós que tomamos a iniciativa de nos reunir, ao contrário, fomos congregados na unidade do Pai, do Filho e do Espírito.

Igreja de pedra e de pedras vivas; edificação realizada por mãos humanas e consagrada para ser a presença do Inefável; assembleia dos santos e edificação construída por Deus! Tudo isso só o olhar de fé detecta.

É comovente ver a devoção e a reverências dos fiéis que rezam na igreja. Mais comovente ainda é saber que Cristo está nela para se entregar a quem vai rezar. É uma alegria saber que Ele está sempre presente, sempre à disposição, sempre acessível, sempre se entregando. Causa dor lancinante, quando se praticam atos de desprezo contra a presença eucarística.

Tanto a penitência de reparação quanto a solene consagração de igreja despertam a consciência de que a mesma reverência que temos para com o templo material devemos ter para com o Espírito Santo que habita nos batizados. Com efeito, Cesário de Arles escreveu: “Se meditarmos com atenção sobre a salvação de nossa alma, reconheceremos que somos o verdadeiro templo vivo de Deus. Por isso, esforcemo-nos com o auxílio de Cristo para que em nós Ele não sofra injúria por nossas más obras. Queres ver limpa a igreja? Não manches tua alma com as nódoas do pecado”.

Amemos mais a igreja! Amemos a Igreja feita de pedras vivas que somos nós.

Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba