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Vanderlei Testa

Amanhã é Dia de São Crispim, patrono dos sapateiros

23 de Outubro de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

 

O tema “sapataria, mestres sapateiros, fábricas de calçados” encontra, nos leitores, uma identificação pessoal, pois todas as pessoas utilizam calçados e valorizam os profissionais que produzem ou consertam. Atualmente, o consumo maior é de tênis e sapatênis, nas mais variadas criações dos estilistas. Diversas vezes publiquei esse assunto devido haver repercussão entre os leitores do jornal Cruzeiro do Sul. Recebo mensagens e até cartas de pedidos com informações relevantes à história das sapatarias em Sorocaba. O leitor Ari Eron da Silva Júnior postou uma carta, nos Correios, numa dessas manifestações que recebi. Ele foi buscar na publicação do artigo de 19 de abril de 2022, “O perfume do couro na sapataria”, a sua inspiração para me escrever. Na sua narrativa, conta que o seu pai teve a vida toda ligada aos sapatos. Foi trabalhador de curtume, sapataria, lojas de comércio de calçados e até funcionário da antiga Fábrica de Sapatos Clark, que existia na rua dos Trilhos, no bairro da Mooca, em São Paulo. A mãe, Judite, aprendeu o ofício de pespontadeira e dava a sua ajuda no acabamento dos sapatos na sua casa.

Sorocaba sempre foi conhecida como uma cidade fornecedora de couro, seja em suas lojas especializadas de comércio desse produto ou de curtumes estabelecidos por famílias tradicionais, como o do patriarca Theodoro Mendes e os curtumes São Pedro, do Romão, ou do Landulfo Scipione. Esses curtumes de Sorocaba eram estabelecidos próximos ao Matadouro Municipal, no bairro do Além Linha. Quem é da geração dos anos 50 em diante vai se lembrar do curtume Santa Rosa, do Chicri Maluf, no bairro do Rio Acima. O cheiro do couro sendo curtido com tanino deixava a vizinhança envolvida com o perfume que exalava dos tanques.

Outra curiosidade de Sorocaba -- no ramo de calçados -- está ligada à fábrica de saltos de madeira para calçados femininos do Antônio Haro, localizada na Vila Haro. Ela funcionou até o final dos anos 60. Um fato pitoresco é que, nos anos 50, as lojas de sapatos, além de venderem os seus modelos, possuíam oficinas de consertos, nos fundos dos estabelecimentos, resolvendo, na hora, os pedidos dos clientes. Alguns exemplos: o Máximo, na rua Leopoldo Machado; Tagrini, na rua Hermelino Matarazzo; Angelotti, na rua Barão do Rio Branco; ou o Milton, na rua Brigadeiro Tobias. Entre os sapateiros mais conhecidos de Sorocaba, estavam: Paco Prado, Nini, José Lourenço e Otávio, todos da rua Cel. Nogueira Padilha. Na rua Jorge Kenworthy, o Francisco Sabariego atendia grande parte da clientela espanhola.

Ainda, na rica história dos sapateiros sorocabanos, surge a fábrica de calçados Matiello, do “Pepino”, localizada na rua Newton Prado. A fábrica do Pedro Judice, na rua Fernão Sales, e a Salum & Pólice, em uma travessa da rua Santa Maria.

Mas, retornando ao leitor Ari Júnior, ele me relatou que começou trabalhando no ramo de sapataria em uma oficina vizinha da Casa de Couro Bom Jesus, na rua dos Morros. Havia, naquela época, em Sorocaba, um serviço que não existe mais na cidade. É a função de pespontadeira de calçados. As fábricas levavam sacarias cheias de formas e aviamentos para as casas das mulheres, que tinham responsabilidade de dar o acabamento. Pesquisando algumas dessas donas de casa, nos anos 50 e 60, surgiram os nomes de Loide e sua irmã, as Matucci; e Sofia, que morava na rua Francisco Glicério. Ari se recorda que da cidade de Boituva, a dona Cida, viajava para trabalhar como pespontadeira em Sorocaba.

O advento do plástico e a multiplicidade de grandes fábricas no sul do País, como Melissa, Alpargatas e tantas outras, reduziram o uso do couro e dos sapatos que, nas vitrines das lojas, cederam espaço às cores e modelos com design ousados para os pés femininos. Já os sapatos masculinos continuam no mesmo molde, mas sem os famosos couros de pelica alemão, comuns no século passado.

Em 25 de outubro é celebrado o Dia de São Crispim, protetor dos sapateiros. Ele foi um romano que usou a sua fortuna para fazer o bem ao próximo. Foi sapateiro e, depois de empobrecido, assim mesmo, ajudou os menos favorecidos com o seu irmão Crispiano. Eles assumiram o cristianismo pela fé em Jesus Cristo e, devido essa decisão perante os romanos, foram decapitados.

Vanderlei Testa ([email protected]) é jornalista e publicitário; escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul