Buscar no Cruzeiro

Buscar

João Alvarenga

Nossas amigas árvores

Desde a colonização portuguesa até os nossos dias, temos uma péssima relação com a natureza, pois extraímos tudo que ela pode nos dar e devolvemos lixo ao meio ambiente

21 de Outubro de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

 

Neste artigo, vamos refletir um pouco sobre a importância das árvores para o planeta; também mostrar que, apesar de nossas amigas, são vítimas de maus-tratos. Trouxe esse assunto por dois motivos. O primeiro diz respeito ao descaso para com o “Dia da Árvore”. Mesmo que o dia 21 de setembro já tenha passado, há bons motivos para abordar esse tema. Pois, embora tal comemoração conste no calendário oficial -- como um momento especial -- a referida data foi, pelo que parece, foi pouco lembrada. O segundo assunto também está relacionado às árvores, mas se refere a um grotesco ato de vandalismo cometido contra um símbolo da Grã-Bretanha.

Este matutino noticiou que um adolescente britânico, munido de um potente machado, covardemente exterminou uma bicentenária árvore londrina. A referida idosa era muito querida pelos britânicos. Pelo que consta, a indefesa vítima, antes de tombar, serviu de cenário para filmes e clipes. Porém, num só golpe, o ímpeto juvenil pôs fim a uma frágil anciã que enfeitava a paisagem inglesa. Embora bizarra, essa notícia triste me fez pensar: Qual o motivo de tamanha fúria?

Todavia, retornando à realidade brasileira, o cenário ambiental não é muito animador, pois, como disse, poucos se lembraram do “Dia da Árvore”, celebração que, no passado, nas escolas, era motivo de festa, com o plantio e distribuição de muitas mudas de árvores. Era uma ação lúdica que focava o meio ambiente. Mais do que isso, tinha um caráter pedagógico que visava despertar nas crianças e adolescentes o sentimento de respeito para com a natureza.

No entanto, o contexto atual deixa uma pergunta: por que essa data vem sendo esquecida até mesmo no ambiente escolar? Seria o reflexo de uma sociedade consumista? Pode até parecer papo de saudosista; mas, antes, rendíamos tributos às queridas árvores. Hoje, lamentavelmente, são vistas como objetos de contendas entre vizinhos. Sabe-se que o plantio de algumas mudas já virou assunto de polícia.

Num condomínio da cidade, aconteceu o seguinte caso: um morador resolveu plantar um hibisco na frente da sua casa, exatamente na divisa com outra moradia. Isso incomodou o vizinho do lado, que passou a reclamar das folhas que caiam em sua garagem. Então, aproveitando-se que a família tutora da árvore viajou, num feriado prolongado, o quizilento condômino, sem piedade, despejou óleo fervente na podre plantinha, que teve morte instantânea. Resumo: foram todos parar na delegacia.

No entanto, leitores, esse não é um episódio isolado de agressão gratuita às dóceis árvores que, humildemente, fornecem sombra, embelezam e purificam o ar das cidades. Afinal, no meio urbano, muitas aroeiras, paineiras, chorões, damas da noite e ipês são, brutalmente, atacadas por corações petrificados. Fazem todo tipo de atrocidade.

Na verdade, desde a colonização portuguesa até os nossos dias, temos uma péssima relação com a natureza, pois extraímos tudo que ela pode nos dar e devolvemos lixo ao meio ambiente. O pau-brasil -- árvore símbolo do nosso País -- está quase extinto. Aliás, há uma imensa lista de árvores nativas das nossas matas, principalmente da Amazônia, que tombam silenciosamente: araucária, jacarandá-da-bahia, cedro-rosa e mogno, entre outras. Muitas vão virar carvão ou móveis de luxo. Isso, lamentavelmente, para o conforto de uma sociedade hedonista.

No entanto, a maioria ignora o fato de que, algumas árvores levam um século para atingir a magnitude máxima. São cem anos para chegar ao seu ápice. Porém, basta uma motosserra maligna para por abaixo cem anos em cinco minutos. Quando uma árvore morre, morrem também pequenas espécies, como insetos e micro-organismo que dependiam dela para sobreviver. Porém, quanto mais o cinza avança sobre o verde, mais sofremos as consequências.

Mas, qual é a solução? Tornar os crimes ambientais hediondos, ou seja, inafiançáveis, e acirrar a fiscalização. Bom domingo!

João Alvarenga é professor de redação