Dom Julio Endi Akamine
O Fim da história?
"Não chores! Eis que o Leão da tribo de Judá, o Rebento de Davi, saiu vencedor. Ele pode romper os selos e abrir o livro" (5,5)
Acontecimentos dramáticos provocam perguntas igualmente dramáticas: estamos no fim dos tempos?
O livro do Apocalipse é absolutamente contra uma concepção fatalista da história. Os acontecimentos deste mundo não são repetição do que já foi, nem estão estabelecidos antecipadamente, tampouco são regidos por um destino predefinido. A história é como um livro que vamos escrevendo livremente.
Se estudarmos a história da humanidade com honestidade, constataremos que ela é como um livro lacrado: não pode se explicar a si mesma, nem dar o sentido do que nela acontece. Com efeito, qual é o sentido das guerras, dos genocídios, das extinções, dos cataclismos, das injustiças presentes na vida pessoal e na de povos e civilizações. Não há como justificar a morte de crianças e inocentes, o sofrimento atroz de populações inteiras reduzidas à miséria, à exploração e à morte. Como justificar a bomba atômica, o terrorismo, a guerra sem fim e onipresente?
Esse é o significado do “livro escrito por dentro e por fora e lacrado por sete selos” (Ap 5,1-10). Por estar firmemente lacrado, não pode ser aberto por ninguém. Se por um lado, a história é construída pela liberdade humana, por outro, o seu sentido global e total não pode ser encontrado no próprio livro. Por isso só alguém com autoridade pode abrir os seus sete selos. Assim se compreende a pergunta do anjo: “Quem é digno de romper os selos e abrir o livro?” (5,2) Nenhuma simples criatura pode desvelar os segredos de Deus.
A reação de João no Apocalipse é tanto o sofrimento por toda a nossa triste história como o sentimento de perplexidade pelo absurdo insuperável. Quem poderá dar sentido ao absurdo da história humana? É mesmo o caso de dar-lhe algum sentido? Quem poderá superar os absurdos infinitos da história?
No Apocalipse, João narra: “Eu chorava muito, porque ninguém foi considerado digno de abrir ou de ler o livro” (5,4). Nessa situação de tristeza extrema, um dos anciãos consola João: “Não chores! Eis que o Leão da tribo de Judá, o Rebento de Davi, saiu vencedor. Ele pode romper os selos e abrir o livro” (5,5).
Cristo é a chave da história. Ele é o Cordeiro imolado que está em pé, porque venceu (5,6). Sem ele, a história é como um livro lacrado; sem Ele, a história se reduz a uma sucessão de tragédias e de absurdos realizados por homens pervertidos e maus. Sem Cristo, não há como suportar a história da humanidade; a única coisa a fazer é deixar o tempo passar, esperando não sermos vítimas de bestiais injustiças, ou a de sair dela nos suicidando!
O Apocalipse nos insere no mistério de Cristo morto e ressuscitado como a chave da história: “Tu és digno de receber o livro e abrir os seus selos, porque foste imolado, e com teu sangue adquiriste para Deus homens de toda tribo, povo e nação. Deles fizeste para o nosso Deus um reino de sacerdotes. E eles reinarão sobre a terra” (5,9-10).
A fé em Cristo não é evasão da história. Ao contrário, é o mistério do Logos que assume a história para redimi-la e conduzi-la ao seu verdadeiro fim. O anjo anuncia a João que há alguém, dentro da história humana, que pode dar sentido à vida; há alguém que assumiu nossa história e a redimiu; há alguém que sofreu com todos os sofredores deste mundo e que venceu todo o mal presente na história humana.
Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba