Dom Julio Endi Akamine
Influenciadores digitais e a sabedoria
Se os influenciadores desejam se manter em pé, é necessário que se afastem da maldade
Até há pouco tempo, pouco se ouvia falar de “influenciadores”. Para os de minha geração era mais comum a expressão “formadores de opinião”. A diferença entre essas duas categorias é que a primeira pode ser uma única pessoa, enquanto que só podiam ser alçadas à segunda os grandes grupos de comunicação de TV, rádio e imprensa. De fato, somente estes últimos tinham a possibilidade e os meios para atingir as massas. Com a internet e as redes sociais, pessoas individuais podem alcançar um âmbito de influência muito mais alargado baseado em “curtidas”, “notificações”, “inscrições” e “viralizações”.
As palavras mudam; as condições também; os processos se transformam. Há, porém, em tudo isso algo de perene e que possa servir de critério de julgamento e de decisão?
O livro da Sabedoria foi escrito entre 217 e 30 a.C. Mesmo que seja uma data imprecisa, não há como negar que o referido livro foi escrito muito tempo antes de nossos últimos desenvolvimentos.
Parece endereçado somente aos governantes, pois inicia fazendo um convite bem preciso: “Amai a justiça, vós que governais a terra” (Sb 1,1). Mesmo que pareça dirigido somente aos que dirigem nações, o seu conteúdo se dirige expressamente a todos e, por isso, também a influenciadores e formadores de opinião.
Levando em conta as diferenças culturais que nos separam, o livro da Sabedoria descreve as disposições necessárias para que alguém possua a verdadeira sabedoria.
Uma lição importante do livro é que as nossas palavras não serão levadas ao vento. Tampouco as intenções mais secretas permanecerão para sempre ocultas. No dia da verdade, tudo o que foi falado, postado ou pensado será revelado: “A Sabedoria não deixa sem castigo quem blasfema com seus próprios lábios, pois Deus é testemunha dos seus pensamentos, investiga seu coração segundo a verdade e se mantém à escuta da sua língua; porque o espírito do Senhor tem conhecimento de tudo o que se diz” (1,6.8). A Sabedoria, portanto, adverte os ímpios que devem se converter de sua falsa segurança. Pensam que suas más intenções, suas palavras ofensivas e suas obras iníquas ficarão sem o castigo.
O princípio de que Deus vê e ouve tudo, porém, vale também para os fiéis. Assim a advertência não se dirige somente aos injustos. Por isso, é preciso que cuidemos de nossas palavras, intenções, ações concretas e postagens, pois seremos julgados também por elas.
O conteúdo do livro da Sabedoria é, portanto, de grande atualidade para todos os que detém alguma responsabilidade sobre os outros. Com efeito, quando as nossas ações e decisões afetam somente a nós mesmos, não se revestem de tanta responsabilidade. Quando as decisões, postagens e publicações ultrapassam o âmbito limitado de um pequeno grupo e afetam outros e até a sociedade toda, a responsabilidade do influenciador aumenta na mesma proporção. Por isso, o livro da Sabedoria afirma sem meias palavras: “O pequeno pode ser perdoado por misericórdia, mas os poderosos serão examinados com poder. Para os poderosos, o julgamento será severo” (6,6).
Se os influenciadores desejam se manter em pé, é necessário que se afastem da maldade, se dediquem à busca da sabedoria e, principalmente, tomem consciência das suas responsabilidades. Todos deverão prestar contas ao tribunal da própria consciência em algum momento, ao da justiça humana por algum delito, e ao de Deus de modo último e definitivo.
Tudo isso foi sintetizado no conselho que minha mãe me deu quando fui nomeado bispo. Ela está fincada como cunha na madeira de minha consciência: “Filho, quanto mais você sobe na árvore, mais fino é o tronco, mais forte é o vento!”
Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba