João Alvarenga
Os benefícios da benevolência
Pode até parecer utopia, mas "empatia" e "benevolência" podem transformar uma situação que parecia ruim em algo satisfatório
Amigo leitor, você é benevolente? É tolerante com os erros dos outros? É capaz de perdoar as pessoas? Essas provocações que abrem este texto têm a finalidade de preparar o espírito para o percurso que faremos neste domingo, cuja leitura pede um pouco mais de calma. Antes, porém, contrapondo a ideia de benevolência, na semana passada, refletimos sobre os atos de vandalismo que permeiam nossa sociedade e, tentamos, de alguma forma, entender o porquê de tais ações. Chegamos à conclusão que, de certo modo, não há uma justificativa plausível para a destruição de bens públicos, pois tais atos atingem a sociedade como um todo.
No entanto, se a realidade à nossa volta parece caótica e temos a sensação de que as pessoas perderam a noção do certo e do errado -- pois parece que tudo está relativizado -- e que a bondade tenha desaparecido do nosso cotidiano, por outro lado, devemos parar para pensar, a fim de perceber que nem tudo é caos, nem tudo está complemente perdido. Ou seja, ainda há boas intenções e pessoas predispostas a trabalhar pelo bem. Na verdade, as pessoas precisam ser mais empáticas, principalmente nas situações adversas, para que o diálogo substitua a violência.
Indo um pouco mais além, seguramente, podemos dizer que falta, também, “benevolência” à sociedade. Mas, quais as características do benevolente? Tem por princípio a tolerância, perdoa com facilidade. Um ser benévolo trata a todos com bondade, principalmente a natureza, e expressa esse sentimento benigno nas suas palavras e atitudes. Em suma, é solidário.
Pode até parecer utopia, mas “empatia” e “benevolência” podem transformar uma situação que parecia ruim em algo satisfatório, desde que haja boa vontade. O filósofo chinês, Confúcio, deixou um rico ensinamento sobre como transformar o mundo em um lugar melhor. Seus ensinos foram objeto de uma palestra, recentemente, no Colégio Bela Alvorada, em Votorantim, em que os estudiosos frisaram: “A mudança começa em nós”. Para isso, é preciso que haja em nós a vontade de mudança. Ou seja, não basta querer mudar o mundo sem que haja uma revisão da nossa postura interior.
Antes, porém, é preciso destacar que não podemos ser ingênuos, pois sabemos que esses ensinamentos, por mais óbvios que sejam, encontram pouca ressonância numa sociedade em que as notícias negativas, infelizmente, ganham mais notoriedade, principalmente nestes tempos de redes sociais, em que tudo “viraliza” -- ou seja, espalha-se como rastilho de pólvora, sem que poucos parem para analisar se tal situação é fato ou fake.
No entanto, independente do contexto midiático e das mazelas sociais, temos que entender que tudo na vida -- guarde bem isso -- tudo mesmo, sempre terá os dois lados. Até parece um clichê, mas não dá para escapar dessa verdade inequívoca. Assim, se temos as palavras “maldade”, “crueldade”, “intolerância”, também há seus antônimos: “bondade”, “tolerância”, “empatia”. Aliás, “benevolência” e “empatia” são irmãs do “respeito” e da “solidariedade”.
Desse modo, onde há respeito, com certeza, temos empatia e, por tabela, benevolência, embora esse termo ande ausente neste século em que os avanços tecnológicos ditam as regras e a sociedade obedece. Por isso, vemos que o brasileiro anda sem paciência e se irrita com facilidade, seja no trabalho, no trânsito ou até mesmo nas horas de lazer. Qualquer mal entendido se torna um “gatilho” para xingamentos, socos e pontapés.
Notamos que até mesmo o futebol, antes o esporte da família, tem sido terreno fértil para atos de violência gratuita, com a ocorrência até da prática vandalismo, em que torcedores depredam arquibancadas de times rivais, quando o resultado da partida não os agrada. Nesse contexto, há quem revise as teorias de que o Brasil é formado por um povo cordial, como preconizava o sociólogo brasileiro, Sérgio Buarque de Holanda. Mas, o porquê disso? Com a palavra, o leitor. Bom domingo!
João Alvarenga é professor de redação