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Celso Ming

Os planos de saúde estão na UTI

A regulação acaba agravando esses problemas porque só foca no aumento da cobertura básica e no controle dos reajustes de preços

03 de Outubro de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

 

Quem acha que sua saúde futura está garantida pela cobertura de um plano complementar poderá passar por forte decepção e por novos problemas.

Esses planos estão mergulhados em crise e nada indica sua recuperação. As margens das operadoras seguem fortemente pressionadas. A sinistralidade do segmento fechou o último semestre em 87,9%. Isso quer dizer que, a cada R$ 100 de receita advinda das mensalidades, R$ 88 foram canalizados ao pagamento das despesas.

Mesmo contando com número recorde de beneficiários, hoje de 50,8 milhões, como informam os dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o prejuízo operacional das operadoras acumulado em 12 meses no fim de junho foi de R$ 8,2 bilhões.

Na tentativa de equilibrar as contas, os planos têm comprimido as redes credenciadas, esticado o quanto podem tanto os reembolsos como o tempo de atendimento e, em alguns casos, têm cancelado contratos de adesão coletiva. Como desdobramento desse jogo retrancado, as reclamações dispararam. Dados do TJ-SP dão conta de que, apenas nos cinco primeiros meses deste ano, foi aberto na Justiça um processo contra planos de saúde a cada 25 minutos.

O descasamento entre receitas e despesas vem crescendo à medida que grande número de beneficiários retomou os exames clínicos e as cirurgias eletivas adiados na pandemia.

Pesam também sobre o cenário adverso o aumento dos custos de insumos médicos e farmacêuticos, a ampliação da lista de procedimentos obrigatórios e o avanço dos gastos com reembolsos e fraudes.

A crise já chega a atingir os hospitais, que apontam atrasos nos pagamentos por serviços já prestados de, no mínimo, R$ 2,3 bilhões.

Mas o que fazer diante de um quadro que caminha para o descalabro? Rogério Scarabel, advogado e ex-presidente da ANS, avisa que as operadoras de saúde precisam de mudanças radicais em seus modelos de atuação. Ele adverte que é preciso aumentar o foco em medicina preventiva, em vez de se concentrar nas urgências.

Para além da reformulação interna, Eric Brasil, diretor de planejamento e sócio da Tendências Consultoria, adverte que a modernização precisa ir além: “A regulação acaba agravando esses problemas conjunturais porque só foca no aumento da cobertura básica e no controle dos reajustes de preços.”

Se não por outra razão, o governo federal deveria dar mais atenção à solução do problema porque, quanto mais se restringir o acesso das classes médias aos planos de saúde, maior será a pressão e o aumento dos custos do Sistema Único de Saúde, o SUS. (Com Pablo Santana)

Celso Ming é comentarista de economia