Vanderlei Testa
O golfe doma os indomáveis
Tiger Woods,o maior jogador de golfe do mundo, criou a sua frase preferida: “Eu quero ser o que eu sempre quis ser: dominante”. Os principais atletas em destaque em suas modalidades sempre cunham alguma frase que se torna referência à população que acompanha as suas trajetórias esportivas.
Na região de Sorocaba, o campo de golfe mais conhecido por suas instalações é o existente no Residencial Lago Azul, em Araçoiaba da Serra. Para entender a origem do golfe é necessário voltar no tempo, no século 15, na Escócia. A grafia golfe tem origem inglesa “golf”. Por sua vez taco, provém do alemão “kolbe”. O esporte foi criado pelos escoceses, que já o praticavam por volta de 1400, antes da descoberta do Brasil. Em 1457, o parlamento escocês, por ordem do rei Jaime II, proibia a prática do golfe por considerá-lo um divertimento que afetava os interesses do país.
O título “o golfe doma os indomáveis” é real e foi cunhado em Sorocaba por um jogador que me definiu esse esporte como desafiante. No Brasil é praticado em campos de golfe existentes em grandes hotéis e condomínios localizados em áreas verdes de dimensões que possibilitem na sua topografia acidentada os famosos buracos, que ficam à espera das bolas arremessadas por tacos milimetricamente produzidos. Por ser um esporte ainda caro para se praticar, os jogadores, em sua grande maioria, são executivos, empresários e moradores dos condomínios.
Essa seja, talvez, a origem da frase do título do artigo, que me chamou a atenção ao ouví-la de um jogador. Quem ocupa uma função de comando empresarial tem sobre si responsabilidades financeiras e organizacionais que exigem decisões racionais e sem levar em conta as emoções. São verdadeiros seres indomáveis em critérios de vidas profissionais.
No final do expediente, depois de mais de 10 horas de trabalho, e nos finais de semana, em viagens ou participando de algum torneio, os personagens jogadores de golfe são testados nos campos verdes, com lagos e morrinhos estrategicamente colocados para dificultar o arremesso da bola nos buracos. E, evidentemente, entrar no pequeno buraco, entre os 9 ou 18 existentes.
Os “touros” indomáveis com os delicados tacos nas mãos e a frágil bolinha se curvam em gestos técnicos do corpo e na força, não física, mas intelectual, passam pelo crivo de serem domados pela singeleza da tacada.
Um apreciador de rodeios me contou e fez analogia da prática do jogo de golfe com um peão nas arenas, como acontece em Barretos, no interior de São Paulo. Segundo me disse o Pedro Alcântara, fica mais fácil comparar. Os touros e cavalos precisam ser domados. A confiança do peão montado alguns segundos no cavalo, precisa, além da fé que eles manifestam, de coragem e ousadia. A firmeza do peão de não se deixar levar pelo impulso do animal e mantê-lo sob domínio é uma tarefa árdua e desafiante. Alguns conseguem, outros caem e são socorridos. A vida e a morte se encontram nos segundos do relógio.
Retornando ao golfe, não há risco de vida e morte, mas há a entrega pessoal do jogador para ser domado. O golfe não depende da inteligência, diplomas, horas de treino, autodomínio, poder e tantas vertentes humanas como no caso do peão.
As definições do jogo de golfe, afirmam os especialistas, como regra de entendimento público, que o golfe é um dos poucos desportos com bola que não exige uma área de jogo normalizada. Dizem os manuais de golfe que o esporte é praticado num campo, o qual geralmente consiste numa progressão de nove ou dezoito buracos. Cada buraco inclui uma área de terreno inicial e uma área final, na qual se encontra uma bandeira e o buraco propriamente dito. Entre as duas áreas existem diversos tipos padronizados de terreno e obstáculos (caixas de areia, lagos, rios, poças), e cada buraco possui uma configuração única -- podendo haver ondulações no terreno. Como me disse o jogador sorocabano, cada buraco é uma história.
Para encerrar, mais duas frases de quem criou o impacto mundial com as suas palavras: “Se não joga melhor que eles, trabalhe mais do que eles” -- Bem Hogan, jogador norte-americano de golfe profissional; “Competir é nunca descansar” -- Kim Rhode, atiradora.
Como se percebe, o golfe é desafiante e doma os indomáveis.
Vanderlei Testa é jornalista e publicitário; escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul ([email protected]