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Dom Julio Endi Akamine

Iniciação: Catequese, Iluminação e Mistagogia

A vida cristã inclui necessariamente comportamentos novos, atitudes concretas e ações renovadas pela Boa Nova

23 de Setembro de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

 

A Iniciação à vida cristã é um processo que inclui várias etapas. A primeira é o anúncio querigmático. A etapa subsequente é a catequese catecumental, que é a mais longa de todo o processo. Durante esse tempo, o catecúmeno vai progressivamente criando familiaridade com a Palavra de Deus, recebe instrução doutrinal, é introduzido nos ritos litúrgicos e se exercita na prática da vida cristã.

A instrução na doutrina da fé é importante para que o catecúmeno possa dar as razões da própria fé a si mesmo e aos outros. Ainda que a doutrina por si só não faça de uma pessoa um cristão, sem conteúdo doutrinário, a fé arrisca permanecer sentimentalista e intimista.

A catequese é principalmente narração das maravilhas que Deus realizou em favor de seu povo ao longo de toda a história da Salvação, se tornando assim catequese bíblica.

Além de instruir, a catequese deve introduzir o catecúmeno na familiaridade com a Palavra de Deus e os ritos litúrgicos. A vida cristã, com efeito, não é somente doutrina; é sobretudo realidade e mistério. O senso do mistério, a intimidade com Deus, a oração perseverante e a obediência à Palavra não são capacidades que se adquirem sem um exercício perseverante e cotidiano.

A vida cristã inclui necessariamente comportamentos novos, atitudes concretas e ações renovadas pela Boa Nova. Nesse sentido, nessa etapa, o catecúmeno deve se exercitar nas virtudes cristãs. Instruído na ética cristã, fortalecido pela vida de oração e pela celebração da liturgia, incentivado pelo exemplo dos fiéis cristãos e, sobretudo, ajudado pela graça, o catecúmeno vai descobrindo aos poucos como a vida cristã exige o combate espiritual e, ao mesmo tempo, que a vida de santidade é uma realidade misteriosa presente na Igreja que o acolhe.

Depois dessa etapa, se dá início ao período da purificação e iluminação. É nesse momento que o catecúmeno declara diante do bispo o desejo e a decisão de se tornar cristão. O bispo, ouvindo o testemunho dos padrinhos, o acolhe e o declara apto para uma preparação imediata aos sacramentos da iniciação cristã.

O período de purificação e iluminação coincide com a quaresma e conduz imediatamente à celebração dos sacramentos da iniciação cristã. Assim, na noite de Páscoa, o catecúmeno recebe os sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia. Tendo recebido o perdão dos pecados, o neófito é incorporado ao povo de Deus, torna-se filho adotivo de Deus, é introduzido pelo Espírito na prometida plenitude dos tempos e, pelo sacrifício e refeição eucarística, antegoza o Reino de Deus.

Depois da celebração dos sacramentos da iniciação cristã, começa a última etapa que é a mistagogia. Nela o neófito obtém o conhecimento completo dos mistérios através das explicações e da experiência dos sacramentos recebidos. Podemos dizer que mistagogia é o tempo em que “a ficha cai”, ou seja, em que vamos tomando plena consciência daquilo que já é realidade na nossa vida cristã.

A iniciação a vida cristã tem como objetivo apresentar às pessoas o que é precioso e transforma a nossa vida. Deus nos deu algo muito bom, e, através da iniciação cristã, queremos partilhar essa dádiva com outras pessoas. De fato, “ser cristão não é uma carga, mas um dom: Deus Pai nos abençoou em Jesus Cristo. A alegria do discípulo é antídoto frente a um mundo atemorizado pelo futuro e oprimido pela violência e pelo ódio. A alegria do discípulo não é um sentimento de bem-estar egoísta, mas uma certeza que brota da fé, que serena o coração e capacita para anunciar a boa nova do amor de Deus. Conhecer Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber e dar; tê-lo encontroado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (DAp, 29).

Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba