Vanderlei Testa
Há pessoas que transformam uma mancha amarela no próprio sol
Sorocaba é um celeiro de artistas plásticos como Maldonado, Ettore Marangoni, Fernanda Monteiro, Lígia Zanella, Júlia Soares, Nelson Molina e tantas outras personagens que se dedicam à arte. Júlia é designer e ilustradora. Lígia ilustra livros com os seus desenhos inspirados em quadrinhos japoneses.
Pincéis, espátulas, tintas coloridas, massas acrílicas, lápis de carvão, cavalete de pintor. Esse são os ingredientes dos ateliês de artistas, como Nelson Molina, na rua Joaquim Rodrigues de Barros, no bairro do Além Ponte. Ele tinha 12 anos, quando a inspiração, que já existia na infância -- no grupo escolar -- despontou nos seus cadernos. Por necessidade de trabalhar para ajudar os pais, José Curraleiro, pedreiro, e a sua mãe, Beatriz Molina, dona de casa, Nelson teve que procurar emprego. Encontrou uma oportunidade de trabalho em uma pequena fábrica de antenas e de calhas, perto do Parque e Zoológico Quinzinho de Barros, a poucos metros da sua casa. Durante cinco anos, aprendeu a profissão e, como era um sonhador em busca do futuro, prestou exames para ingressar na Polícia Militar.
O artista Nelson Molina tinha foco no seu desejo de ser pintor e decidiu ingressar em uma escola de pintura que ficava localizada atrás do Fórum velho, na rua Voluntários de Sorocaba. Animado, com os seus 18 anos de idade, teve apenas duas aulas. Seguiu a sua carreira como autodidata, aprendendo em livros e em conversas com artistas mais experientes.
Entre os fatos relatados por Nelson, ele recordou de uma exposição que participou no Shopping Esplanada. Foi, nesse espaço, em evento de final de ano, que surgiu a sua maior conquista: a produção de quadros exclusivos para uma mesma pessoa. Um colecionador de Sorocaba, ao visitar a exposição, ficou encantado com a beleza das cores em suas telas.
Inicialmente, comprou uma tela recém-pintada durante a mostra no shopping. Poucos dias depois, Nelson Molina recebeu mais três pedidos da mesma pessoa e, a partir disso, relembra que, nos anos seguintes, e até o falecimento do cliente, um médico apaixonado por artes plásticas, mais de 400 quadros foram entregues e afixados nas paredes da sua casa e no seu consultório. Nelson mostrou-me um livro da Pinacoteca da Associação Paulista de Medicina, com uma página dupla, destacando uma pintura assinada por ele. A primeira sede da Escola Paulista de Medicina, em 2010, foi a imagem que reproduziu com fidelidade em sua criação artística. A beleza da pintura impressionou a diretoria da associação que publicou a tela no livro comemorativo.
Através das redes sociais, Molina é conhecido no Brasil e no exterior. Os seus quadros são pintados com exclusividade para cada pessoa, sem nunca repetir a mesma imagem em duas delas. Essa característica do artista o torna procurado por galerias, como a da cidade de Embu das Artes, que revendem suas pinturas aos turistas ingleses, japoneses, alemães, italianos e franceses.
No dia da entrevista, finalizava dois quadros que uma senhora do Recife, a dona Carmita, encomendou, com paisagens de Paris. Uma obra-prima aos olhos de quem a contempla. Além de entregar, individualmente, as suas obras de arte às pessoas de muitos Estados brasileiros, Nelson conta que recebia pedidos de galerias de Curitiba que vendiam as suas pinturas em leilões.
Aposentado, Nelson, com 56 anos de idade, dedica-se diariamente à pintura, com encomendas que o fazem s debruçar em frente ao cavalete e à tela durante horas seguidas. A sua expertise é tanta no manejo das tintas, que ele consegue rabiscar com o carvão a sua criação e, em dois dias, finalizar a pintura com uma beleza de traços e alto relevo com a espátula deslizando em suas mãos.
A Dah Fiore é grafiteira e, sempre que convocada, apresentada os seus trabalhos em murais, para embelezar com a sua arte, o cotidiano das pessoas que circulam por Sorocaba. A pintura no muro do Terminal Santo Antônio, que traz a sua criação inspiradora, é um exemplo.
Como disse Pablo Picasso: “Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela, mas há aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol.”
Vanderlei Testa é jornalista e publicitário; escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul. ([email protected])