João Alvarenga
Sobre a verdade
A facilidade de acesso a todo tipo de informação tem gerado muita confusão entre os cidadãos, pois nem todos confrontam as fontes
Amigo leitor, neste artigo, vamos refletir sobre o problema da verdade. Nunca, ela -- a verdade -- se fez tão necessária à sociedade como hoje. Muitos a buscam intensamente, porque as propaladas “fake news” atropelam conceitos científicos, filosóficos e religiosos. Muitas vezes, tais falácias tentam se impor como verdades absolutas, principalmente porque distorcerem conhecimentos que foram adquiridos, com o sacrifício de estudiosos, depois de décadas de pesquisas e análises. Exemplo: há sites que pregam, com teorias alopradas, que a terra é plana.
Para o saudoso professor de Filosofia Jacob Bazarian, autor do livro “O problema da verdade”, no qual discute a importância do conhecimento como instrumento de acesso à verdade científica, tal problemática não é recente, pois, mesmo antes da internet, a desinformação já se fazia presente na sociedade, por meio de fofocas. Tal atitude encontra espaço até mesmo no meio acadêmico. Bazarian observa que, desde os tempos mais remotos, a sociedade sempre se debateu sobre os limites entre verdade e mentira.
De certo modo, esse assunto sempre ocupou a mente de pessoas comuns, poetas, filósofos e teólogos. Na Bíblia, o versículo “Conheceis a verdade e a verdade vos libertará” (João, 8:32), enfatiza o aspecto libertador da veracidade. Já, no entender de Sócrates, “a verdade não está com os homens, mas entre os homens”. Sob esse prisma, Friedrich Nietzsche é taxativo, quando diz: “Não há verdades absolutas”. Assim, a preocupação aumenta, pois as informações inverídicas sempre encontraram amparo em quem, lamentavelmente, contenta-se com meia informação. Claro que isso se agravou com o advento da internet, porque todo mundo se tornou “dono” da verdade.
Desse modo, também não é novidade que há muita inverdade na rede mundial de computadores, pois a disseminação de falácias gera intranquilidade nas pessoas e coloca em confronto até mesmo o papel da imprensa. Dessa forma, lamentavelmente, uma informação inverídica sobre determinado fato, muitas vezes, bizarríssimo, por ser compartilhada rapidamente nas redes sociais, ganha mais visibilidade dos que os fatos narrados pelos órgãos oficiais. Isso gera transtornos e até mesmo prejuízo à sociedade.
Tanto que, em muitas circunstâncias, tais órgãos precisam emitir notas para tranquilizar a população, que sempre fica alarmada com burburinhos sem fundo de verdade. Foi o que se deu, há alguns meses, com o alarmismo sobre a represa de Itupararanga, pois propagaram, via redes sociais, que ela poderia se romper a qualquer momento.
Na verdade, havia uma preocupação da administração com o volume de água acumulado. Por isso, a Prefeitura acionou o Estado para verificar essa questão, a fim de emitir boletins sobre as condições estruturais da barragem. Logo, é preocupante o fato de que uma mentira que, na sua maioria, parte de fontes duvidosas, ganhe mais credibilidade do que uma matéria veiculada por um jornalista. Afinal, trata-se de um profissional gabaritado para tal missão.
No entanto, a facilidade de acesso a todo tipo de informação tem gerado muita confusão entre os cidadãos, pois nem todos confrontam as fontes. Nem mesmo estudantes de cursos universitários fazem isso, simplesmente copiam e colam, sem o menor pudor. Porém, uma desinformação pode até provocar tragédias.
Talvez, o leitor se lembre de um fato lamentável que aconteceu, há sete anos, em que a dona de casa Fabiane Maria de Jesus morreu, após ser linchada, no Guarujá, porque a sua imagem, na internet, foi associada a uma bruxa que sequestrava crianças para rituais macabros. Não havia um pingo de verdade nisso. Presos, os autores alegaram que era uma brincadeira. Mas, já era tarde, pois populares levaram a sério uma mentira que custou a vida de uma inocente. Na política, tal prática causa sérios danos que comprometem não só a imagem de pessoas ilibadas, mas o futuro de um país. Bom domingo!
João Alvarenga é professor de redação