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Dom Julio Endi Akamine

Tornar-se cristão

O ser humano vive à procura de respostas sobre a vida e sobre si mesmo

01 de Setembro de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

 

Ninguém nasce cristão. Cada dia eu me torno cristão!

Com essa constatação caímos na conta de que ninguém é, enquanto está nas condições desta vida terrena, totalmente cristão, assim como ninguém é 100% ateu. A pessoa que não crê em Cristo pode ter do cristianismo e da fé católica muitas informações e conhecimentos corretos que, mesmo não sendo aceitos, acabam por constituir a própria identidade ateia. Evidentemente a sua opção pelo ateísmo se dá também em oposição e em confronto com o que ele conhece do cristianismo. Por isso, há alguns casos de conversão em que o convertido reconhece que sua iniciação à vida cristã não se realiza somente como uma ruptura, mas que, de alguma forma, foi um passo em direção a uma plenitude que ele buscou com desejo e paixão.

No processo de iniciação à vida cristã tem importância o primeiro anúncio!

O primeiro anúncio (conhecido como querigma) é a mensagem central que anuncia a ação e o oferecimento decisivos de Deus de salvar com a morte e a ressurreição de Jesus (cf. Rm 16,25; 1Cor 1,21; 15,3-5). Esse primeiro anúncio já contém o essencial. Podemos até dizer que contém tudo o que a iniciação cristã quer comunicar: ao iniciante é oferecida a salvação em Jesus Cristo de maneira vital e existencialmente significativa.

O querigma responde às perguntas que inquietam o coração humano. É claro que ele não responde a todas as dificuldades existenciais do ser humano, mas refulge com luz suficiente para iniciar uma nova caminhada, para provocar no iniciante uma ascensão que promete a plena realização da pessoa e a salvação do mundo.

Note bem: o querigma não é todo o caminho, mas é seu início. Ou melhor: é mais do que o início; é o oferecimento de um dom do qual dependem todos os passos a serem dados, é a percepção e a intuição do Mistério da Fé que se oferece ao iniciante. A partir da aceitação do querigma, o iniciante pressente claramente que entrará numa caminhada cuja meta já vislumbra. Desde o início, ao iniciante é oferecida a meta do caminho: Jesus Cristo, a comunhão com Deus, a unidade e a paz com os irmãos e as irmãs. O primeiro anúncio oferece o vislumbre da meta, o abraço feliz do Pai que nos ama, nos espera e nos deseja.

Para que o primeiro anúncio aconteça realmente como oferta da salvação, é preciso que o anunciador esteja atento e identifique as perguntas fundamentais do iniciante, as suas inquietudes mais sofridas, a busca incessante de quem deseja se superar.

“O ser humano vive à procura de respostas sobre a vida e sobre si mesmo. Pode até ser iludido por turbilhões que escondem essa busca, por fugas que acabam levando a perigos e alienações. Mas as perguntas continuam lá dentro de homens e mulheres que querem saber quem são, por que estão neste mundo, que sentido têm as escolhas que a vida exige de nós” (Estudos da CNBB 97,5).

A evangelização consiste em anunciar Jesus Cristo como o tesouro precioso que recebemos gratuitamente, como a beleza que não passa, como o amor incondicional e fiel de Deus.

O efeito que o querigma se propõe realizar no iniciante é muito bem descrito por Santo Agostinho. Nas Confissões (X,27,38), ele descreve o que significou o seu encontro com Cristo, depois de uma longa, sedenta e sofrida busca.

“Tarde te amei, Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Tu estavas dentro de mim, e eu te buscava fora de mim. Brilhaste e resplandeceste diante de mim, e expulsaste dos meus olhos a cegueira. Exalaste o teu Espírito, e aspirei o teu perfume, e te desejei. Saboreei-te, e agora tenho fome e sede de ti. Tocaste-me, e abrasei-me na tua paz.”

Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba