Nildo Benedetti
Filmes da Netflix: ‘Pray Away’ (Parte 1 de 4)
Neste texto, para definir a sexualidade individual, utilizarei, os termos “heterossexual” e “gay”, sendo este aplicado para englobar as variedades LGBTQI. É uma simplificação da enorme variedade de termos e definições de identidades sexuais. Contudo, tal simplificação é necessária para facilitar a escrita deste texto e suficiente para assistir ao documentário.
O documentário da norte-americana Kristine Stolakis, de 2021, trata dos danos provocados pelas formas de tratamento para a conversão, em heterossexuais, de pessoas homossexuais, bissexuais e outras variantes de sexualidade humana. Ou seja, o tratamentos de conversão de pessoas do grupo LGBTQ+ em heterossexuais. É a “terapia de conversão gay”.
Para compreender o documentário é preciso, de saída, responder à seguinte pergunta: A conversão gay é possível? Se a resposta for positiva, significa que os esforços para efetuá-la são aceitáveis, desde que sirvam para atenuar sofrimento do indivíduo que não aceita sua condição de gay. Se esse sofrimento estiver ausente, não há razão para efetuar a conversão e que cada um conduza sua vida sexual como quiser, desde que respeitados os limites legais que proíbem estupro, pedofilia etc.
Contudo, se a conversão gay não for possível, não há o menor sentido em submeter o indivíduo ao enorme sofrimento de lutar contra sua própria natureza para tornar-se heterossexual.
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Para responder se a conversão gay é ou não possível, deveremos recorrer à ciência.
O leitor encontrará na Internet vários estudos que tratam da sexualidade sob o ponto de vista biológico. Do médico Dráuzio Varella, por exemplo, é possível ter acesso, no Youtube, a várias de suas ideias sobre a sexualidade, dirigidas tanto a especialistas quanto a leigos.
Resumidamente, ele afirma que o gay não se sente adequado à sua sexualidade anatômica. Ele é rejeitado ou hostilizado em casa e fora dela. Os episódios de automutilação de órgãos sexuais são demonstrações de que as motivações internas são impossíveis de serem contidas. Não há escolha livre de sexualidade, ninguém escolhe ser homossexual. Cita um importante trabalho científico publicado na prestigiada revista científica “Nature” em que o autor analisou casos de intersexualidade sob o ponto de vista puramente biológico e conclui que não existe nenhum parâmetro biológico que permita definir se um indivíduo é portador de sexualidade puramente masculina ou feminina, porque entre masculinidade e feminilidade puras há um amplo intervalo de possibilidades de sexualidade. Termina o artigo sugerindo que, como não existe um dado biológico capaz de definir a sexualidade humana, a forma mais segura de saber sobre a sexualidade de alguém é perguntar-lhe como ele se sente: homem, mulher ou simultaneamente homem e mulher.
O equilíbrio que faz a diferenciação entre homens e mulheres envolve mediadores químicos, hormônios e receptores de hormônios das células do corpo. É um mecanismo extremamente complexo e que começou a ser detectado apenas recentemente. O preconceito contra gay é fruto de ignorância e Varella afirma que a sexualidade é uma ilha cercada de ignorância por todos os lados. Ninguém decide sobre sua sexualidade. O indivíduo pode controlar seus atos, mas sua tendência sexual é incontrolável.
Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec