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João Alvarenga

Etarismo, você conhece?

Na cultura oriental, principalmente a nipônica, o idoso é muito respeitado, já que, para os japoneses, o ancião é um ‘livro vivo’

12 de Agosto de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Dizem que a velhice é a melhor idade para se viver porque, com o tempo, vem não apenas a maturidade, mas a compreensão do sentido da existência. Inclusive, poetas exaltam a vida depois dos sessenta. Além disso, há, também, campanhas midiáticas de valorização do envelhecimento saudável que enfatizam: a sabedoria só é possível, a partir das experiências que os anos proporcionam. Em tese, um velho erra menos que um jovem, porque já conhece o caminho das pedras. Ou seja, sabe onde estão os possíveis perigos.

Tanto que, na cultura oriental, principalmente a nipônica, o idoso é muito respeitado, já que, para os japoneses, o ancião é um ‘livro vivo’, cujo conhecimento pode ajudar às futuras gerações. Desse modo, os ensinamentos de Confúcio, filósofo e educador chinês, são levados a sério, pois “é na velhice que o homem atinge a sua plenitude”.

Porém, na contração dos discursos que enaltecem o envelhecimento, o Etarismo surge, no ocidente, como um movimento silencioso, com ênfase no mercado de trabalho. Matérias em sites comentam o assunto com preocupação. Afinal, o que é o Etarismo? Segundo alguns especialistas, tal termo tem como sinônimo os vocábulos “ageísmo” e “idadismo” que, no fundo, significam as mesmas coisas. Ou seja, uma espécie de rótulo ou carimbo que relega ao idoso a condição de incapaz para determinadas funções dentro do mundo corporativo.

No fundo, trata-se de uma forma disfarçada de preconceito contra quem já ultrapassou a casa dos cinquenta anos, o que torna as pessoas dessa faixa etária (ou mais) vítimas de exclusão nas empresas e na sociedade. O drama começa, quando um profissional, ao atingir seus 57 anos, acaba dispensado pela empresa em que trabalhava há mais de duas décadas. Embora sinta que tem disposição para continuar trabalhando, nem sempre os patrões enxergam desse modo. Detalhe cruel: com a Reforma da Previdência, nem todos os operários, com esse perfil, têm o tempo de contribuição necessário ou a idade exigida para se aposentar.

Assim, terá que buscar outro emprego; porém, o problema se agrava no momento em que esse operário tenta uma recolocação no mercado de trabalho, pois, geralmente, quando o setor de RH das empresas olha para o currículo do candidato e checa a idade a empresa, ainda que tenha vagas disponíveis, tende a evitar tal contratação. Isso acontece com maior frequência quando a função exige conhecimento em novas tecnologias.

Na maioria dos casos, dá-se como desculpa o fato de que os conhecimentos do entrevistado estão defasados. Como o mundo corporativo não tem coração, mas critério de seleção, muitas vezes, perde a oportunidade de ter na equipe um experiente profissional que muito pode contribuir com a lucratividade do grupo empresarial.

Pesquisas desenvolvidas por diversas consultorias mostram que mais de 70% dos trabalhadores, com idade acima dos cinquenta anos, já sofreram algum tipo de discriminação na hora de buscar um emprego. Outro dado alarmante: 78% das empresas brasileiras afirmam que têm perfil etarista, ou seja, a idade do candidato é um fator preponderante na hora da contratação.

Lamentavelmente, especialistas lembram que esse cenário mexe com a autoestima dos idosos que passam, realmente, a acreditar que “o tempo deles já passou”. Esse contexto tem servido de alerta para Organização Mundial da Saúde (OMS), pois pessoas nessas condições tendem a isolar-se da sociedade, cair em depressão. Muitos acabam por se encaixar em ‘subempregos’ ou funções inferiores, com um salário bem abaixo do que ganhavam anteriormente.

No entanto, o Etarismo não se restringe apenas ao mundo trabalho, há registros, também, no dia a dia, pois os idosos são os mais visados em assaltos violentos. Além disso, frases, como: “quem gosta de velho é asilo”, evidenciam o desrespeito. A verdade é que muitos se esquecem de que, um dia, também envelhecerão. Até a semana que vem!

João Alvarenga é professor de redação