Buscar no Cruzeiro

Buscar

Nildo Benedetti

Filmes da Netflix: ‘A chegada’ (parte 1 de 2)

03 de Agosto de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
A linguista Louise Banks (Amy Adams) e o cientista Ian Donnelly (Jeremy Renner)
A linguista Louise Banks (Amy Adams) e o cientista Ian Donnelly (Jeremy Renner) (Crédito: DIVULGAÇÃO)

Em junho de 2017 publiquei nesta coluna dois artigos sobre este filme de ficção científica do diretor canadense Denis Villeneuve, de 2016. Mais tarde, no final de 2020, publiquei um artigo que tinha por título “A pandemia e ’A chegada’”.

Antes dos créditos, o filme mostra recortes da vida familiar de uma mulher desde o nascimento da filha até a morte desta, na adolescência. A seguir, começa a trama e saberemos que aquela mulher é Louise Banks, professora que se dedica ao estudo e ensino de línguas. Ela é procurada pelo exército norte-americano para traduzir os sinais emitidos por estranhos seres de sete braços que vieram a bordo de doze naves espaciais e pousaram em pontos diferentes da Terra, com o objetivo aparente de manter contato com os terráqueos. Com seus conhecimentos, a linguista deverá descobrir as intenções desses alienígenas. O cientista Ian Donnelly também é recrutado para estudar o fenômeno.

Nos dois artigos de junho de 2017, explorei os aspectos antimilitarista e linguístico do filme. Escrevi sobre o absurdo dos atritos e dos interesses políticos internacionais em jogo entre os países, o papel da imprensa como propagadora de boatos desencontrados que atemorizam a população, o caos que se instaura. Escrevi também que o antimilitarismo do filme se faz tomando o exército dos Estados Unidos como exemplo ilustrativo. Assistimos às atitudes neuróticas dos militares e membros da CIA que enxergam ameaças de guerra em todos os cantos e querem reagir antes de serem atacados; chegam a cometer o disparate de querer destruir a nave espacial e seus ocupantes, sem saber da real capacidade dos supostos “inimigos” (saberemos depois que sua superioridade sobre os terráqueos é inimaginável em todos os aspectos).

O Exército arma um circo de precauções, armamentos e roupas sofisticados, os militares ostentam a pompa de um poderio bélico invencível que é incompatível com o resultado prático das operações militares norte-americanas ao redor do mundo nas últimas décadas. O coronel que contata Louise é um bronco que dá ordens à jovem como se fora grande autoridade da Linguística.

O cientista Ian apropriadamente define os que comandam a operação como jokers (palhaços, bufões).

*

Outro tópico de que tratei nos artigos de 2017 foi o da linguagem. O emprego da linguagem é próprio do ser humano e é dado pela Natureza, ou seja, nascemos com a capacidade de adquirir uma linguagem, seja falada, seja de sinais (Libras, por exemplo)

A capacidade inata do ser humano de se comunicar com o mundo, permite-lhe formular conceitos impossíveis de serem compreendidos pelas outras espécies animais. A linguagem é o modo de fazer que pensamento se torna realidade, porque não se pode pensar sem palavras. O linguista norte-americano Benjamin Lee Whorf, explicitamente citado no filme, levou ao extremo a hipótese do determinismo linguístico ao afirmar que a estrutura da língua falada por um indivíduo ou sociedade determina sua forma de raciocinar sobre a realidade.

Louise vai alterando radicalmente seu modo de pensar à medida que vai aprendendo a língua dos extraterrestres e, como estes podem ver simultaneamente o passado, o presente e o futuro, ela também adquire a mesma capacidade.

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec

[email protected]