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João Alvarenga

Ética, pra quê?

os desvios de conduta passam a sensação de que estamos na ‘era da permissividade’. Ou seja, tudo pode! Assim, a corrupção é vista com naturalidade, pois é o ‘o jeitinho brasileiro’

29 de Julho de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Tema do Enem e de vestibulares, o estudo da ética, nas ações humanas, implica uma análise sóbria, desprovida de paixões, sobre a conduta da nossa sociedade neste século. Tal tarefa é desafiadora, pois há dúvidas sobre os limites entre moral e ética, já que ambas tratam do mesmo objeto: a vida em coletividade.

Além disso, o mundo enfrenta, atualmente, uma intensa revisão de valores. Situação que resulta numa zona de tensão entre aqueles que se agarram às tradições e os que entendem que a dinâmica do nosso tempo, em decorrência da virtualização das interações sociais, acena com a possibilidade da quebra de paradigmas.

Nesse embate, fica claro que a falta de ética, principalmente nas relações interpessoais, além de gerar conflitos de interesse, reflete, diretamente, na sociedade. Afinal, os desvios de conduta passam a sensação de que estamos na ‘era da permissividade’. Ou seja, tudo pode! Assim, a corrupção é vista com naturalidade, pois é o ‘o jeitinho brasileiro’. Afinal, a punição é branda. Logo, levar vantagem tornou-se a regra do jogo.

Para alguns sociólogos, a vida pública parece um espelho no qual a sociedade se reflete. Logo, atos como: colar na prova, furar a fila do caixa, ficar com o troco a mais, cruzar o sinal vermelho ou burlar o fisco são vistos como mera esperteza. Porém, para que não paire dúvidas, tais comportamentos são antiéticos, sim! No entanto, nem todos encaram dessa maneira, por isso o traficante, por afrontar as leis, é visto como ‘herói’ em algumas comunidades, já que a palavra ‘não’ virou pecado.

Desse modo, em nome da ‘sagrada’ liberdade de expressão, numa sociedade cada vez mais focada nos direitos e distantes dos deveres, admite-se tudo, principalmente o erro. Claro que, em tese, deveríamos aprender com os erros. Mas, tal pensamento parece uma falácia, porque não olhamos para passado.

Então, ignoramos as falhas e seguimos batendo cabeça. Por quê? A resposta está no pensamento do saudoso professor de filosofia, Jacob Bazarian, autor do livro “O problema da verdade”: “ainda não aprendemos a lidar com a liberdade e, na maioria das vezes, a confundimos com libertinagem”.

Sob esse prisma, para o cidadão comum e, principalmente aos adolescentes, fica a ideia de que não há mais limites para as atitudes, porque o termo “depende”, mais do que um modismo, tornou-se instrumento balizador até mesmo de opiniões radicais que são contrárias à ética, à lógica e aos direitos humanos. Infelizmente, a internet, ao mesmo tempo em que é uma riquíssima enciclopédia virtual, também está repleta de maus exemplos, até com sites que exaltam o nazismo ou práticas abomináveis.

Porém, é unânime a visão de que a rede mundial é um terreno arenoso e, que embora existam algumas regulamentações, nem sempre são observadas por aqueles quem abastecem essa ferramenta. Um exemplo: muitas vezes, uma brincadeira, aparentemente ingênua, como desafios que podem levar inocentes à morte, como têm ocorrido com crianças que, por não terem a exata noção do perigo, são facilmente manipuladas por mentes doentias.

Mas, afinal, o que é a ética? Ou melhor, para que ela existe? De acordo com os filósofos: ‘A ética busca distinguir, de maneira moderada e, com uma visão questionadora, o certo do errado e a linha, muitas vezes, tênue, entre o bem e o mal.‘

Já o filósofo Emmanuel Kant entendia que a ética se fundamenta na razão, para nortear condutas da sociedade, a fim de evitar abusos ou injustiças. Ou seja, a princípio, o conjunto de regras deve ser estabelecido de dentro para fora do indivíduo. Para Spinoza, a boa formação contribui para que o ser humano busque o caminho da retidão, a fim de evitar os desvios de conduta.

E a moral, onde ela se encaixa? De certo modo, a moral, por ser “o conjunto de valores, de normas e de noções do que é certo ou errado”, sedimenta o caminho da ética. Ou seja, são indissociáveis. Até a próxima!

João Alvarenga é professor de redação.