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Vanderlei Testa

Doces espanhóis na festa da Dionísia com Sidney Magal

Uma receita espanhola que fazia sucesso era a ‘miga‘, que tinha como ingrediente, o pão comprado na ‘Padaria da Lua‘

24 de Julho de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Arte: VT)

 

Quem nunca deu uma escapadinha dos olhos da mãe para comer aquele doce gostoso que ela fez? Principalmente, antes do almoço. A saudosa Dionísia Calvo Peres, filha dos espanhóis Carmem e Santiago, tinha uma habilidade gastronômica para fazer doces e quitutes. A sua vocação de esposa dedicada ao marido, João Peres, e mãe zelosa dos três filhos, José Santiago, João Willian e Marise, era nitidamente percebida nos pratos das refeições em família. Dionísia está na memória e afeto de José Santiago, que contou sobre as delícias dos doces típicos espanhóis que experimentava da mãe. A mesma sensibilidade brota do coração da Marise Peres Pereira, suspirando de emoção, ao relembrar da sua progenitora, na cozinha, preparando as receitas dos imigrantes espanhóis.

Nossas memórias e afeto estão ligados às comidas que nossas mães preparavam no almoço em família, os lanches da escola e até as mamadeiras. Os doces vêm à tona nas sobremesas da vovó, como no caso da dona Carmem Ramires, que herdou de seus pais a tradição gastronômica de sua cidade natal, na Espanha, e repassou às suas três filhas, Dionísia, Floripe e Irene.

Aquelas escapadelas dos filhos e irmãos de Dionísia, ou ‘Nísia‘, como o marido João a chamava, para saborear os deliciosos doces de coco, mamão verde cortado em tiras, e amarrados com barbante, ainda permanecem vivos em décadas de lembranças dos seus descendentes.

A menina Dionísia nasceu em 1926 e foi a primeira de nove irmãos. Cresceu aprendendo, em casa, a gastronomia caseira que tinha o sabor inconfundível do tempero da mamãe Carmem, cozinheira da prole de filhos Calvo Ramires, que moravam na casa da Avenida São Paulo 727. A bronquite - que atrapalhava a sua saúde - não foi empecilho para Dionísia se casar com 19 anos de idade. O jovem João Peres a conquistou com amor e afeto. Ele tinha 22 anos e, desde os 12 anos, trabalhava com mecânica de veículos. Em 12 de agosto de 1949 fundou a Auto Mecânica Sorocaba.

Sempre cuidadosa com a sua aparência física, Dionísia era a jovem filha de espanhóis que preservava a sua beleza com alimentação orientada pelos pais. Um exemplo dessa atitude é relatado pela filha Marise, que recorda do pai, que trabalhava com tratores comercializados nos sítios, e presenciava como os agrotóxicos eram colocados nas plantações de tomate. Em casa, João Peres exigia que a esposa Dionísia retirasse toda a pele dos tomates para preparar os molhos e saladas. Os doces de abóbora, caprichosamente cozidos com cal, davam a textura crocante ao doce consumido na casa.

Uma receita espanhola que fazia sucesso era a ‘miga‘, que tinha como ingrediente, o pão comprado na ‘Padaria da Lua‘ misturado com ovos caipiras. Entre outras iguarias, o Montecau, a Cufa e o Sequilho estavam sempre à mesa. Pratos deliciosos preparados pelas mãos da Dionísia, imperdíveis como receitas espanholas da encantadora avó e da amiga Carmem que trabalhou durante 40 anos em sua casa. A ‘Paella‘ da Dionísia exigia o uso de 30 limões vermelhos, o doce de leite empanado na sobremesa e o quibe, assado em gordura de carneiro, só perdiam para o cabrito com vinho e a torta de nozes da matriarca Dionísia.

Entre as atividades da mãe, a Marise destaca os treinos de vôlei que Dionísia fazia na Associação Cristã de Moços - ACM, para manter a sua estética com as amigas que a acompanhavam nos chás da tarde.

Entre os artistas preferidos da Dionísia, o cantor Sidney Magal ocupava lugar de destaque. Ela adorava vê-lo em suas apresentações, na televisão, com as danças e performances que lembravam os dançarinos espanhóis. Quando completou 80 e 90 anos de idade, os filhos prepararam uma surpresa à mãe, contratando o cantor Magal para a sua festa. Um show especialmente dedicado a ela e seus convidados no Clube de Campo Sorocaba. Foram dois aniversários registrados em som e imagem que, ainda hoje, são relembrados pela família Peres.

A rica culinária traz à memória de Marise a lembrança das viagens, pois cada país tem suas cores, amores e sabores. Na Espanha, não poderia ser diferente! Uma nação de cultura vibrante, cuja gastronomia é parte fundamental, seja na confeitaria ou preciosidades típicas de cada região. Dionísia viajou por toda a Espanha com a família e aproveitou, em seus 91 anos de vida, para experimentar com sabedoria o dom que Deus lhe deu de ser a irmã, filha, esposa, mãe, avó e bisavó que todos que a conheceram e a enaltecem como ‘la reina de la casa‘ (Rainha do lar).

Vanderlei Testa ([email protected]) Jornalista e Publicitário escreve as terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul