Vanderlei Testa
Dia 4 de julho de 1924, uma data a ser comemorada hoje na Catedral
Levantamento estatístico da população brasileira, em divulgação recente, afirma que cerca de 30 mil pessoas no país têm 100 anos de idade
Terça-feira, dia 4 de julho de 2023. Hoje têm início as solenidades da abertura do Ano Jubilar do Centenário da Arquidiocese de Sorocaba. A missa será presidida por dom Julio Endi Akamine na Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Ponte, às 12h. Na sequência da missa comemorativa, o arcebispo e representantes da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos farão o lançamento do Selo personalizado e apresentação do Carimbo alusivo aos 100 anos da Arquidiocese.
Cem envelopes com o selo ilustrado com a logomarca do centenário e o carimbo em envelopes serão entregues aos convidados do evento. Uma relíquia histórica desta data que relembra o início, em 1924, da posse do primeiro bispo, dom José Carlos de Aguirre, em Sorocaba. Arquidioceses, são poucas as que chegaram ao centenário.
Levantamento estatístico da população brasileira, em divulgação recente, afirma que cerca de 30 mil pessoas no País têm 100 anos de idade. Um exemplo de comemoração de 100 anos de vida é o Carlito Pinto de Souza. Carlito nasceu em junho de 1923 no Estado da Bahia. Filho de Maria Souza Aguiar e Alcindo Pinto de Souza. O casal teve seis filhos -- quatro mulheres e dois homens.
A ousadia do Carlito, desde a sua juventude, sempre foi notada por seus pais e irmãos. Decidido a sair da zona rural da Bahia, aos 21 anos de idade arrumou as malas e veio morar em São Paulo, Capital. Mesmo assustado com a grandeza da maior cidade do Brasil, não se intimidou em sair de trem da Bahia e depois zarpar em um navio. Uma viagem de 30 dias. Carlito conseguiu, com a sua prosa alegre e contagiante, arranjar emprego no comércio de São Paulo. Essa sua iniciativa o levaria, anos depois, a prestar concurso para um emprego no serviço público estadual, na área da saúde.
Nos anos de 1950, Carlito, com uma experiência de vida profissional e comunitária do interior do Estado de São Paulo, ficou fascinado por Sorocaba, que fica a pouco mais de 90 quilômetros da Capital. Novamente com as malas prontas, conseguiu a sua transferência para o Hospital Leonor Mendes de Barros, como funcionário do conjunto hospitalar na cidade. Essa foi a decisiva mudança de vida do Carlito, pois graças à sua nova moradia em Sorocaba, acabou por conhecer, namorar e casar com Terezinha de Jesus Oliveira, nascida em 1934.
Como as atividades do serviço público na área da saúde era dinâmica, Carlito foi transferido para a cidade de São José dos Campos, morando nessa localidade por quatro anos. Como Sorocaba já tinha fascinado o casal, eles decidiram retornar e criar os seus filhos, Jussara Pinto de Souza, Iara Pinto de Souza e Carlos Pinto de Souza, todos sorocabanos.
O lazer de Terezinha e Carlito em Sorocaba foi um sitio no bairro Caguaçu. A filha Jussara, ainda hoje, depois de mais de 50 anos, recorda-se com carinho da infância e semanas de férias escolares nesse sitio, em meio ao mato e animais, incluindo umas vaquinhas dos seus pais.
Próximo à região de Sorocaba, a cidade preferida para as viagens de Carlito era Juquiá. Para ele, que passou boa parte da vida no interior da Bahia, caçar em Juquiá era uma extensão da sua juventude.
Reunida em torno do bolo do aniversário do centenário do patriarca, a família Pinto de Souza cantou parabéns e a filha Jussara destacou, em palavras, o exemplo de vida do “super pai” e amigo. Carlito que acorda cedo todos os dias tem na sua rotina: esperar, como leitor, há mais de 50 anos, a entrega do jornal Cruzeiro do Sul para a leitura no café da manhã.
Com 60 anos de idade, Carlito se aposentou na sede do antigo Palácio da Saúde, como atendente de enfermagem e técnico de radiologia. Um ser humano ético e determinado forjou na têmpera da dignidade as suas gerações de filhos e descendentes, juntamente com a esposa, que sempre o apoiou em suas atitudes.
Entre essas suas atitudes saudáveis para manter a energia aos 100 anos, Carlito está sem comer carne vermelha desde os 85 anos de idade, tomando canja com frango caipira, leite de soja e principalmente, como fazia a sua mãe na Bahia, colocando farinha de mandioca pernambucana no tempero das suas refeições. Orgulhoso da neta que se formou em psicologia, Carlito faz da sua rotina diária, sem andador, muleta ou cadeira de rodas, um motivo a mais para continuar a viver com alegria, gostando apenas de ter um braço amigo para acompanhá-lo nas caminhadas.
Vanderlei Testa ([email protected]) é jornalista e publicitário; escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul