Vanderlei Testa
Esperança na dor
É possível ter esperança na dor? Quem está vivendo a dor de uma perda familiar, ou a dor de uma enfermidade crônica, como o extremo de um câncer, ou a dor da solidão, angústia que sufoca o coração, talvez sinta que não há esperança na dor. Mas, há aqueles que superam o sofrimento com fé e resignação. São pessoas iluminadas, como João Marcos Andrietta -- há 13 anos é portador da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) -- que acredita: sempre haverá esperança na dor. A sua determinação de vida cristã o leva a acordar, todos os dias, com a certeza de que Deus o está conduzindo para o que Ele desejar na sua trajetória neste mundo.
Frei José Aparecido de Andrade e João Marcos Andrietta são os autores da revista “Esperança na Dor doenças espirituais”. O que o leitor desconhece é que João Marcos tem que usar um minúsculo dispositivo acoplado à língua, com movimentos imperceptíveis, para transmitir esses impulsos a um sistema eletrônico que traduz, em palavras, o que o seu pensamento deseja escrever.
O evento do lançamento da revista, ocorreu no dia 15 de junho, na cidade de Salto. A edição teve 10 mil exemplares com distribuição gratuita. Essa iniciativa contou com a participação do bispo emérito, dom Vicente Costa; frei José Aparecido; da esposa de João Marcos, Sirlene Andrietta, e as filhas Maria Amábile e Maria Paula, que leram a carta escrita pelo pai aos participantes desse lançamento na “Casa da Aliança do Bem”.
A história da Esclerose Lateral Amiotrófica ELA na vida do João Marcos começou quando ele tinha 50 anos de vida. Empresário do ramo de borracha, em Sorocaba, João Marcos mantinha a sua rotina profissional e as atividades familiares com a mesma naturalidade diária. Nas horas de folga, fora do trabalho na empresa, prestava serviço voluntário junto ao Lar São Vicente de Paulo, da cidade de Salto, onde mora. Participar com a esposa, Sirlene, das missas dominicais era a prioridade de João Marcos, bem como do Movimento das Equipes de Nossa Senhora.
A enfermidade ELA chegou de surpresa. Não havia precedentes na família e os primeiros sintomas, quase que imperceptíveis, só foram sendo descobertos com os exames e diagnósticos médicos. O avanço físico dessa enfermidade reduz os movimentos do corpo. No caso de João Marcos, a doença já atingiu praticamente 99% da sua mobilidade corporal. Sem poder se movimentar ou falar, João Marcos usa o olhar e o piscar, para ser entendido através de um abecedário criado com a finalidade de interpretar suas palavras.
Apesar das dificuldades, João Marcos é um ser humano alegre e feliz, grato à vida e à doença que o acompanha, pois tem plena consciência cristã de que nada acontece sem a bênção divina do Criador. Homem de uma fé inabalável, João Marcos testemunha, na revista “Esperança na Dor”, as suas experiências vivenciadas na cama hospitalar, ao lado, 24 horas, de equipamentos de respiração e outros que o ajudam a respirar.
Acompanhado por uma equipe de “anjos cuidadores” e da família, vive em sua casa, em ambiente controlado como uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Na carta, lida pelas filhas, João Marcos afirmou que o seu médico, o dr. Safi, é tão humano e especial na sua vida que, ao invés de colocar o estetoscópio no seu coração, prefere colocar os próprios ouvidos, para auscultar o pulsar da sua frequência cardíaca. Um gesto cristão.
Gratidão é o mantra usado por João Marcos em todos os momentos que se manifesta. Desde a podóloga aos enfermeiros que cuidam da sua fisioterapia, aos médicos e nutricionista. Enfim, é grato aos profissionais que, todos os dias, de segunda a domingo, estão ao seu lado. Também expressa gratidão pelos que levam espiritualidade à sua vida, através das orações, como um amigo que o visita semanalmente e, de joelhos, ao pé da cama, ora o Terço pela intercessão de sua cura. Na capa da revista, há uma passagem da Carta de São Tiago que diz: “Está alguém enfermo? Chame os sacerdotes da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o restabelecerá”.
“O trecho bíblico de São Tiago marca fortemente a minha vida”, diz João Marcos Andrietta, sobretudo depois de 2009, quando fui diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), pois tal doença, que a medicina considera incurável, aponta um tempo de sobrevivência dos pacientes ao redor de três anos.
“Diante desse prognóstico, busquei conhecer melhor a razão da citação bíblica já mencionada, alicerçar um sacramento que mudou, definitivamente, a minha existência”, salienta. “Nesse sentido, encontrei no Catecismo da Igreja Católica (CIC), todas as respostas para meus questionamentos. Assim, aprendi que ‘a Igreja dos Apóstolos conhece um rito próprio em favor dos enfermos’, atestado por São Tiago” (CIC 1510). Então, “A Tradição reconheceu, neste rito, um dos sete sacramentos da Igreja”. A coordenação geral do projeto da revista é de Sandra Valéria Gilberti Prenstteter e Rodrigo Prenstteter.
Vanderlei Testa ([email protected]) é jornalista e publicitário; escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul