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Vanderlei Testa

Histórias que são capítulos da Sorocaba de hoje e de antigamente

Histórias que são capítulos da Sorocaba de hoje e de antigamente

19 de Junho de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: VANDERLEI TESTA / ARTE: VT)

 

A oportunidade de conversar com pessoas que nasceram na década de 1940 -- agora com mais de 80 anos de idade -- traz à memória delas uma série de acontecimentos que as faz reviver com saudosismo a sua infância e juventude. Diferente do que acontece quando o diálogo é com quem nasceu neste século, com até os seus 23 anos de idade. As gerações de antigamente sentem emoções, ao relatar fatos do passado, pois guardam detalhes impressionantes. Assim, nada escapa à memória, até o aroma das comidas das avós faz parte de suas reminiscências. Neste artigo, vou contar um pouco da conversa que tive com Rosali Delben e com outros sessentões que frequentaram o Ginásio Municipal de Esportes em suas infâncias.

Antônio Delben foi um empreendedor ousado no seu tempo, na década de 1950. A Padaria Santa Rosália, dos Italianos, pertencente à família, localizada bem na esquina da rua Aparecida com avenida Pereira da Silva, marcou uma geração de panificadores no comércio de Sorocaba. Quem relatou essa história foi a filha, a professora aposentada, Rosali Delben, hoje com 80 anos de idade. Na sua infância e juventude, ela estudava no Instituto Santa Escolástica, seguindo a vocação de ser professora. A sua dedicação aos estudos a afastou, por exigência dos pais, dos namoros e compromissos conjugais, preferindo, com o passar do tempo, ficar solteira. Rosali é uma mulher culta e comunicativa. Vive, atualmente, cercada do afeto de seus sobrinhos, no seu apartamento, na Vila Jardini. Leitora apaixonada pelas obras de Érico Veríssimo, Machado de Assis e Cervantes, ela tem -- na sua estante -- muitas obras literárias que a fazem sentir viajando nas narrativas de seus escritores preferidos. Os suspenses também envolvem as suas leituras diárias, que faz no aconchego do seu lar. Ágata Christie e Arthur Conan Doyle, na criatividade de seus contos, deixam o coração da Rosali palpitante, devido às fortes emoções das aventuras escritas pelos autores consagrados da literatura mundial.

Descendente de italianos, da região do Vêneto, a professora gosta de citar trechos de pensamentos de seus pais e avós, em idioma italiano. A sua irmã, Marilene, é a companheira de todas as horas. Os seus 27 anos de magistério foram dedicados aos alunos das cidades de Jandira e Votorantim. Nas suas lembranças do maternal, a madre Miriam, na pré-escola, ainda a faz voltar ao passado. Reconhecendo a importante presença da família, citou o benefício de ter sido bolsista na escola, por intervenção de um tio ferroviário, que possuía esse benefício junto ao colégio. Também, na memória da Rosali a história das madres alemãs, que lecionavam no Instituto Santa Escolástica, e que eram exigentes no ensino das alunas.

Segundo a Rosali, a palavra baile não existe no dicionário e nos costumes da juventude deste século. As mocinhas de agora desconhecem o estilo musical dos bailinhos de antigamente, ressalta a professora. Outro detalhe que Rosali lembra são as cadernetas de compras que os seus pais forneciam, na padaria, aos clientes. “Agora, o cartão de crédito e débito substituiu a caderneta”, observou a educadora. Isso sem falar no famoso Pix, que tomou conta das transações financeiras, destaca. Com jeitão de avó, com cabelos brancos e afável, ao falar, Rosali disse que, por muitos anos, morou em Botucatu, para cuidar do sobrinho que estudava Medicina. Ela a tratava como mãe e avó.

O segundo capítulo deste artigo começou a ser escrito no Ginásio Municipal de Esportes Gualberto Moreira, em 1950, e relembrado em junho de 2023, em uma confraternização. Para alguns dos jogadores mirins de basquete nos anos de 1960, essa década foi inesquecível. Eram alunos orientados pelas atletas Heleninha, Zilá, Cida Comitre, Ritinha e Moreto, entre outras.

Passados mais de 60 anos dessa infância esportiva, o grupo de veteranos, nos dias atuais, se reuniu em uma chácara. Foram 34 participantes animados pelo momento festivo do reencontro. Entre abraços e palavras de saudades, a alegria tomou conta de todos. Tadeu Kerche, professor de História, reviveu as aventuras com Ivan Paris, Leuvijildo Gonzales, Francisco Moron, Ivan Castilho e Daniel Perdiga. Quem esteve nesse encontro, como os irmãos Márcio e Marcos Bornia, esportistas até hoje, enalteceram a unidade do grupo, chamado de “minhoquinhas”, pelas jogadoras de basquete que conquistavam títulos para Sorocaba.

Integravam o grupo: Wilson Bidu, Jorge Martínez, Quincas Pinheiro, Gabriel Merege, Paulo Coelho, Doraci Sola Galera, Nei Mathiazzi, César e Jefferson Gomes, que, na adolescência, participavam dos jogos no ginásio de esportes. “Esse tempo, voou, mas não foi esquecido por ninguém da turma”, afirmou Rubens Fusco.

Esta foi a primeira vez que aconteceu esse encontro festivo e, com entusiasmo, até pela presença de Noriaki, que morava na Indonésia, e também festejou o reencontro. O segundo encontro, como numa partida de basquete, terá continuidade, em breve, para novas jogadas de saudosismo.

Vanderlei Testa ([email protected]) é jornalista e publicitário; escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul