João Alvarenga
Missão x obrigação
Levando a efeito a ideia de que cada um veio para cá com uma incumbência, o que prevalece, então, é a ideia de como executá-la
Amigo leitor, você sabe qual é a sua missão neste planeta? Tem a exata noção do que veio fazer aqui, durante sua passagem pelo plano Terra? Há pessoas que passam longe do projeto que traçaram no começo dos estudos porque tiveram uma reviravolta que tornou o sonho impossível. Há quem acredite que não era para ter sido, porque o destino não quis.
De certo modo, tal provocativa indagação que abre este texto nos soa como aquela clássica pergunta que todos ouvem na infância: “o que você vai ser quando crescer?” Parece que o questionador imagina que já nascemos prontos para este mundo. E, mais, com uma carreira profissional definida! Muitas vezes, os imberbes dão respostas impensadas, para satisfazer os adultos, embora não tenham a exata noção do amanhã.
Às vezes, nem mesmo os concluintes do ensino médio têm a exata ciência do que farão assim que pegarem o diploma. De uma coisa estão certos: o temido Enem está logo ali! Ou seja, a vida da maioria dos jovens passa pelo desafio dos vestibulares, pois o futuro é o trabalho.
No fundo, a maioria sabe que esse processo é um caminho sem volta, ainda que muitos não tenham a tal da vocação plenamente despertada. Ou seja, ainda que as aptidões ou habilidades não tenham dado sinais, são elas que garantirão uma escolha segura, a fim de que os jovens não se arrependam. Para isso, buscam a orientação de especialistas ou até mesmo fazem testes para descobrir possíveis vocações.
Claro que muitos alunos chegam ao ensino médio com foco numa idealizada profissão. Geralmente, os adolescentes são motivados pelos familiares. Ainda que tenham pavor de sangue, muitos visam à Medicina, pois são motivados pelos pais. Mas, cabe um questionamento: será que tal opção é vocação ou obrigação?
Esse questionamento ocorre porque há quem acredite que o status que o médico desfruta na sociedade influa nessa decisão sem que isso represente, de fato, amor à profissão. Na verdade, só o tempo dirá. O fato é que o ser humano sempre terá escolhas. E isso, segundo o filósofo Luiz Felipe Pondé, tornou-se, neste século, um grande dilema, porque o leque de profissões ampliou-se significativamente.
Porém, fora do pragmatismo ocidental, independente de uma pessoa ter uma carreira de sucesso ou não, alguns segmentos religiosos e filosóficos do oriente acreditam que cada ser humano tem, neste mundo, uma tarefa a cumprir, seja ela pequena ou grandiosa. De destaque ou não.
Ou seja, não importa a dimensão do encargo a ser executado, pois cada ser humano tem uma missão divina. Mas, muitos não se dão conta disso. Por isso, convivem com a sensação de que sempre falta algo. Às vezes, escolhem uma carreira, ou mesmo um casamento, movidos pelas aparências. Assim, tornam-se infelizes. Desse modo, frisam os gurus, o importante é o indivíduo descobrir sua função e cumpri-la integralmente, independente do reconhecimento ou não.
Tanto que a palavra “carma” (do sânscrito karma) é entendida pelo Hinduísmo e Budismo como uma “ação” a ser executada. Tal assunto é encarado com muita seriedade por essas correntes, que acreditam na “Lei do Carma”, que prega: “todo efeito tem uma causa correspondente, ou seja, toda atitude praticada, seja ela benevolente ou não, terá uma consequência”. Traduzindo: para cada ação há uma reação. Por isso, o vocábulo carma (que significa ação) se associa ao termo “dharma”, que significa “como fazer”.
Levando a efeito a ideia de que cada um veio para cá com uma incumbência, o que prevalece, então, é a ideia de como executá-la, a fim de atingir a felicidade. Nesse contexto, o Kardecismo comunga com tal pensamento; porém, acredita que o carma é o “destino” de cada um, pois entende que o ser humano, ao nascer, traz consigo uma dívida a ser quitada. Assim, o ideal é que os jovens, antes de abraçar uma carreira, reflitam, para que a atribuição não tenha o peso da obrigação, mas o sabor de uma agradável missão. Até a próxima!
João Alvarenga é professor de redação