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João Alvarenga

PHD do crime

Muitos bandidos se tornaram "doutores" na arte de driblar a legislação brasileira, que não prevê o crime virtual

27 de Maio de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: REPRODUÇÃO INTERNET )

 

Estimados leitores, uma coisa é inegável: nossos criminosos são muito criativos. Temos a impressão de que a “indústria do crime”, no Brasil, prospera a olhos vistos, pois a bandidagem está deitando e rolando -- dando muito trabalho à Polícia -- para aumentar a produtividade de um negócio que consiste em obter ganho fácil de todas as formas possíveis. Desse modo, diuturnamente, os operários do crime atuam em várias frentes, sem dar trégua à sociedade. Afinal, precisam lucrar a qualquer custo. Assim, vemos do convencional tráfico de drogas e de armas aos sofisticados golpes financeiros pela internet, além de sequestros relâmpagos, quadrilhas do Pix e “golpe do motoboy”.

Nesse contexto, somam-se, também, a essa gigantesca organização, com fins lucrativos ilícios, a incontável série de estelionatos, aplicados em aposentados do INSS. São golpes e mais golpes que engrossam as fileiras da maldade. E tem mais, com o advento das novas tecnologias, via uso de aplicativos, muito bandidinho virou “PHD do crime”. Ou seja, abandonou a ação física, que exige mais “esforço”, para agir pela internet. Em tese, correm menos riscos e, ao que parece, o “lucro” vem mais rápido, basta ludibriar um incauto, para sair ganhando.

Assim, até mesmo na hora de fazer nossas compras estamos expostos a riscos financeiros. Como noticiado na semana passada, uma atendente de uma rede atacadista, ao fazer cartão de crédito da loja para os clientes, utilizava o limite deles para compras particulares. Nesse caso, o óbvio é inevitável: estamos em perigo constante. Ou seja, parafraseando o poeta Ferreira Gullar, o Brasil está cheio de armadilhas para o cidadão de bem, que se torna presa fácil nas mãos dos especialistas do crime.

Temos a impressão de que essa “indústria” prospera, porque as leis, além de brandas, são obsoletas. Fica a sensação de que a Justiça tem sido boazinha com os criminosos, mas severa com a população. Assim, o caminho está livre para que os bandidos atuem, deliberadamente, para obter o tão almejado “pão de cada dia”; todavia, com um gritante detalhe: sem o sofrido suor no rosto, como fazem, todos os dias, os trabalhadores brasileiros.

No entanto, especialistas observam que algo mudou, no cenário do crime brasileiro, uma vez que, gradativamente, o tradicional assalto à mão armada a agências bancárias ou joalherias vem sendo substituído pelo simples “click” na tecla do computador, e uma imensa quantidade de dinheiro é destinada à bandidagem sem que seja disparado um único tiro. Tanto que já se tornou rotina, na mídia, matérias sobre empresas de fachada que fazem operações financeiras que, pela internet, vendem ilusões aos seus clientes, pois prometem o paraíso dos lucros astronômicos, com a compra e vendas de criptomoedas; mas, levam os investidores ao inferno. Notícias dão conta de que tais operados ilícitos lesam milhares de desavisados, causando prejuízo de milhões de reais. São lesados de pessoas comuns a empresários, nem jogadores de futebol escaparam dessa lambança, pois amargaram duras perdas financeiras.

Se o crime está mais sofisticado, isso se deve ao advento da tecnologia, com o uso a famosa Inteligência Artificial (IA), pois muitos bandidos se tornaram “doutores” na arte de driblar a legislação brasileira, que não prevê o crime virtual. Logo, é inegável que o País vive uma crítica realidade, no que tange à criminalidade ostensiva, pois enquanto o Estado se desorganiza, os criminosos, não só se organizam, como se estabelecem na forma de uma “instituição” paralela, com poder de fogo, muitas vezes, maior do que o de quem os combate, a Polícia.

Portanto, já passou da hora das leis serem revistas e, rigidamente, aplicadas. Mais do que isso, é preciso que os “gênios” que criaram mecanismos tão inteligentes, capazes de substituir a mão de obra humana, comecem a pensar num meio de barrar o crime com o antídoto do veneno virtual. Até a próxima!

João Alvarenga é professor de redação