Buscar no Cruzeiro

Buscar

Vanderlei Testa

A ponte da rua Quinze de Novembro tem história italiana

15 de Maio de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: ÁLBUM DE FAMÍLIA /VANDERLEITESTA - ARTE:VT)

 

Francisco Dell’Osso, sobrenome de família da Itália. No Brasil, foi registrado em cartório como Francisco “Dellosso”. Hélio Dellosso não quis mudar o nome, mas os sobrinhos foram pesquisar na cidade italiana de origem do bisavô Giovani Maurizio Dell’Osso e fizeram a correção na placa da ponte da rua Quinze de Novembro, para continuarem a tradição dos Dell’Osso. Essa foi a introdução da entrevista realizada com um cafezinho servido em xícara de porcelana com 100 anos de fabricação. A prosa ativou a memória dos 95 anos de vida de Hélio Dellosso. A sua história teve início na rua Paula Souza, em 1928. Filho de Vidalvina Rosa e Francisco (Chiquinho) Delloso, o menino Hélio morou nessa casa até 1942. Ao lado de seu lar, estava à centenária Casa São Paulo. Essa loja está na história de Sorocaba como um ícone do comércio varejista, como se recorda o Hélio, um dos filhos de Francisco que trabalhou nos balcões do empreendimento por mais de 60 anos.

Perguntei à filha do Hélio, professora Aparecida de Fátima Dellosso de Lá Rosa, qual era o segredo da vitalidade do pai? Ela respondeu: “Meu pai acorda todos os dias e agradece a vida, o sol, a família e tudo o que ele tem ao seu redor. Nunca reclama de nada e faz da oração a sua fortaleza”. Depois perguntei ao Hélio, onde ele, com 95 anos, fortalece a sua lucidez e energia positiva. A resposta chegou rápida, com a afirmação de estar a serviço da Sociedade São Vicente de Paulo, como vicentino voluntário, há 52 anos.

Hélio estudou no Colégio Santa Escolástica e na juventude prestou vestibular parava Faculdade de Direito de Sorocaba. Ele se formou advogado na segunda turma, entre os 18 alunos aprovados. Os seus pais tiveram sete filhos: Plínio, Nilza, Enilza, Dirceu, Darci, Miriam e o Hélio. Hélio nasceu em 26 de junho de 1928.

Atuante no comércio desde quando começou a namorar a sua saudosa esposa, Apparecida Alves de Oliveira Delloso, Hélio enfatizou que se lembra do seu avô, antes de dormir, orando de joelhos ao lado da cama. De seus tempos de balconista, Hélio citou uma boiada que passou pela rua Quinze de Novembro e um boi entrou na loja, circulou entre os corredores e não quebrou nada. Também citou a enchente de 1929 que inundou as margens do rio Sorocaba e quase encheu a loja.

Na sua juventude, aos 16 anos de idade, Hélio encontrou aquela que viria a ser a sua esposa. Ao relatar esse episódio, os seus olhos brilharam, buscando na memória o dia do bailinho de Aleluia no Sorocaba Clube. “A Cida estava de vestido branco, maravilhoso! Fiquei encantado por ela”, narrou. Esse encontro ao som da orquestra dos Irmãos Cavalheiros levou o casal enamorado a sonhar com o casamento. Durou seis anos o namoro. Mas, “recompensou a espera”, disse Hélio: foram 64 anos de casados. “Os 70 anos que passamos juntos foram uma graça de Deus em nossas vidas”. Cida e Hélio tiveram dois filhos, Hélio Delosso Júnior e Aparecida de Fátima. E dois netos, Narciso Neto e Mariana.

Uma das alegrias que o Hélio se recorda a cada dia, aconteceu na inauguração da placa com o nome de seu pai, Francisco Dell’Osso, na ponte que liga a rua Quinze de Novembro com a avenida São Paulo. Ele fez o discurso de agradecimento em nome da família. Em suas palavras, escritas e guardadas no diário que mantém com as suas lembranças, Hélio disse: “Quando, em 31 de maio de 1985, nosso pai faleceu e, 16 dias depois, a nossa mãe o acompanhava, passamos por momentos tristes e difíceis. Nesta hora foi importante a presença dos amigos. Um gesto que calou fundo em nosso coração foi à indicação feita por um amigo, Américo de Carvalho, para homenagear nosso pai com o nome desta importante ponte histórica”.

“Dias atrás, eu me sentei em um canto da minha casa e fiquei a meditar: como foi meu pai? Qual a sua importância como homem, como membro de uma comunidade, como chefe de família, como comerciante, como servo de Deus? E conclui que o seu Chiquinho foi uma grande pessoa. Porque os grandes homens não são medidos pelas grandes obras que realizam, mas pelo conjunto de pequenas coisas que realizam no dia a dia”.

Vanderlei Testa ([email protected]) é jornalista e publicitário. Escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul