Vanderlei Testa
A Espanha e os espanhóis, em Sorocaba e Itapetininga
A sua beleza, de olhos claros, cabelos castanhos, tocou o sentimento do jovem Santiago
O Dia do Trabalho, comemorado ontem, (1º de maio), motivou este artigo dedicado aos trabalhadores espanhóis que venceram as suas dificuldades de imigrantes e formaram famílias, contribuindo para um País desenvolvido.
No Brasil, a importação das sementes da cebola da Espanha trouxe à agricultura nacional, aliada à imigração dos espanhóis, uma tradição que perdura por mais de 100 de anos, desde o século 19. Foi na cidade de São Manoel, na região Sudeste do Estado de São Paulo, que o jovem Santiago Calvo, um dos 700 mil imigrantes espanhóis que vieram para o Brasil, desembarcou do trem, com os seus 16 anos de idade. Isso, depois de horas de viagem e várias paradas no trajeto.
O rei Felipe VI, filho de Juan Carlos -- o pai que abdicou de suas credenciais --, é que mantém as tradições da monarquia e preserva a história da Espanha. O país atrai anualmente milhões de turistas e de investimentos, por sua localização na maior parte da península ibérica. É um país banhado pelo oceano Atlântico e mar Mediterrâneo. No século XIX, as famílias espanholas proporcionaram ao Brasil a vinda de seus filhos trabalhadores.
A cidade de Toro ficou para trás nas emoções do último olhar que Santiago deu ao ver a embarcação se distanciar da costa espanhola. Foram mais de 90 dias de traslado pelo oceano Atlântico até chegar ao Brasil, alojado com outros compatriotas em compartimentos apertados nos andares inferiores do navio.
Como grande prêmio dessa aventura, o destino reservou o encontro do amor de Santiago Calvo, em Sorocaba. Carmem Ramires Sancedo era espanhola e tinha vindo com os pais ao Brasil quando tinha três anos de idade. Na sua juventude, moradora do bairro da Caputera com a família, conheceu Santiago Calvo.
A sua beleza, de olhos claros, cabelos castanhos, tocou o sentimento do jovem Santiago. A união do casal nas terras sorocabanas consolidou o início da aliança das famílias espanholas, Calvo e Ramires.
Um aprendizado de vida nos negócios de Carmem e Santiago foi transmitido aos nove filhos, empreendedores de sucesso nas suas atividades em Sorocaba, Itapetininga e no Brasil. Como toureiros valentes em uma arena, os espanhóis, Santiago Calvo e Carmem Ramires, deixaram um legado no comércio de cebolas da cidade, conquistando a formação de seus filhos, como o Floreal Calvo Ramires.
Floreal Calvo Ramires, formado em medicina, foi um dos mais destacados profissionais e ser humano dedicado às causas de saúde pública nas cidades de Itaporanga e Itapetininga. Com 30 anos de idade, casou-se com a professora Helenice de Oliveira. Os primeiros encontros dos dois jovens aconteceram na época do footing, na praça Cel. Fernando Prestes, em Sorocaba. Depois de namorar e casarem na igreja de Santa Rosália, Floreal e Helenice constituíram uma família com três filhas, Carmem Lúcia, Ana Paula e Roberta Carolina, mães de seus cinco netos, Giuliana e Gabriel, Thomas, Sophia e Stela.
Na sua trajetória profissional, o médico Floreal Calvo Ramires, a convite do seu cunhado, o também médico Nelson Lamos de Oliveira, atuou na cidade de Itaporanga de 1966 a 1969. Atendia aos moradores e à população carente da região. Fundou em Itaporanga, juntamente com Nelson, o primeiro hospital da cidade, o Hospital São Lucas. O Clube de Campo de Itaporanga foi igualmente fundado por iniciativa do médico Floreal, unindo os esportistas da cidade.
Em 28 de abril de 1969, decidiu fixar residência em Itapetininga, permanecendo por 24 anos, até 2003, quando faleceu. Ele foi secretário e diretor social da Associação Paulista de Medicina, diretor do Clube Venâncio Ayres, Rotary Clube, e muitas outras entidades, como a loja Maçônica de Itapetininga.
As homenagens da população ao médico Floreal Calvo Ramires foram muitas, pelos serviços prestados como benfeitor da cidade. Entre elas, a Câmara Municipal de Itapetininga denominou em 2005, a Unidade Básica de Saúde do Distrito de Conceição de “Dr. Floreal Calvo Ramires”. O doutor Floreal agregou em suas amizades, grandes nomes na área da saúde do Brasil, como o dentista João Fernando de Oliveira Camargo e o médico José Carlos Lopes Prado, ortopedista, em São Paulo.
Helenice de Oliveira Calvo, professora, hoje com 82 anos, mora em Sorocaba, está sempre rodeada pelas filhas e netos que vivem no Brasil e nos Estados Unidos. No encerramento da entrevista para este artigo, Helenice afirmou: “O Floreal sempre foi uma pessoa dinâmica, amoroso, dedicado e humanitário com todas as pessoas”. Esse é um dos motivos para uma Escola Municipal de Itapetininga também levar o seu nome. Os alunos conhecem a história do seu patrono, um descendente de espanhóis trabalhador incansável pela saúde pública.
Vanderlei Testa ([email protected]), jornalista e publicitário, escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul