Nildo Benedetti
Séries da Netflix: ‘Vosso Reino’ T2 (parte 2 de 3)
Atualmente, as máquinas de inteligência artificial competem e superam os humanos em habilidades cognitivas
Na semana passada escrevi sobre algumas disparidades dos ensinamentos de Cristo e a vida na sociedade contemporânea.
Nas últimas três décadas, assistimos ao surgimento da “ameaça tecnológica” que, por meio da inteligência artificial, ameaça extinguir bilhões de empregos. Sobre essa ameaça, gostaria de expor algumas hipóteses do historiador e filósofo israelense Yuval Noah Harari extraídas de seus livros e conferências. Recomendo ao leitor a entrevista ao programa “Roda Viva” de 11/11/2019.
Harari citou à Folha de S. Paulo de 4/11/2019 os três grandes problemas que a humanidade deverá solucionar no século 21: mudança climática, ascensão da inteligência artificial e avanços da biotecnologia e da bioengenharia.
Atualmente, as máquinas de inteligência artificial competem e superam os humanos em habilidades cognitivas. Com isso, a nova revolução tecnológica criará a classe dos bilhões de pessoas que serão superadas pela inteligência artificial e que, perdendo seus empregos, também perderão poder político, justamente por não terem poder econômico. Este desastre atingirá, em menor ou maior grau, a quase totalidade das categorias profissionais que existem hoje.
Os políticos têm conhecimentos limitadíssimos sobre a inteligência artificial e, ao invés de olharem para a frente, preferem dar nova embalagem a nostálgicas fantasias sobre um passado supostamente glorioso, como o nazi-fascismo ultradireitista. Afirma Harari: “E, quando você escuta o que a extrema-direita tem a dizer, vê que eles não têm ideia alguma sobre esses temas. Afirmam que a mudança climática é “fake news”, não têm nada a dizer sobre as revoluções tecnológicas e sobre como lidar com a revolução da automação e não têm plano nenhum para criar uma ordem global alternativa”. Note-se que Harari não é da esquerda.
Os desastrosos efeitos econômicos e subjetivos do desemprego em massa que ocorrerá no mundo deverão ser enfrentados com uma “rede de proteção global”, diz Harari. Essa rede só é possível de ser construída pelo desenvolvimento de afetos como solidariedade e compaixão, que são centrais na doutrina cristã. Contudo, algumas autoridades das certas vertentes do cristianismo se aproximaram do neoliberalismo individualista, que gerou a desigualdade socioeconômica crescente que hoje observamos entre os países e dentro de cada país. Além disso, alguns desses líderes se aproximam de ideologias que resgatam do nazi-fascismo devastador do século 20, que parecia enterrado e que agora ressurge como destruidor das democracias e propagador de ódio contra inimigos convenientemente inventados. Tanto um quanto o outro nada têm a ver com Cristo, porque levam fiéis a aceitar ideias que conflitam com a própria doutrina cristã: indiferença ao destino dos pobres, ódio aos pobres, racismo, violência, perseguição de minorias, intolerância política e religiosa etc. Muitos desses sacerdotes são ávidos por dinheiro e bens materiais, exercem politicagem interesseira, mentem usando o nome de Cristo, distorcem a interpretação das Suas palavras, pregam o ódio contra supostos inimigos de seus interesses. Propagam a bizarrice de que um cristão não pode ser de esquerda ou a de que a vacina contra a Covid 19 em crianças seria um “infanticídio”.
Está série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec