Vanderlei Testa
O médico Nelson Lamos foi um ‘maquinão’ nos campos de futebol
O jogador Paraná, como compadre do médico Nelson, que batizou a sua filha Cibelle, frequentava a cidade de Itaporanga em suas férias para jogar bola com ele
Um jovem sorocabano, amigo e compadre do jogador Paraná, de muitas glórias ao time do São Bento, além do futebol, tinha como meta na vida, ser médico. A trajetória de Nelson Lamos de Oliveira nos bancos escolares começou no início da década de 1940.
Ele morava na rua Gerônimo Rosa, na Vila Santana. Nelson era filho do ferroviário Elizio Oliveira e de Luzia Lamos. A sua infância e juventude com os irmãos Osvaldo e Helenice, foi marcada pelos poucos anos de diferença entre eles. Osvaldo nasceu em 1938, Nelson, em 1936 e Helenice, em 1941.
O pai, como ferroviário, da Estrada de Ferro Sorocabana, escolheu a carreira de chefe de estação, percorrendo várias cidades com a família nas suas mudanças de trabalho pelo interior e litoral paulista. O jovem Nelson Lamos de Oliveira, batizado com esse nome e com o apelido carinhoso de “Maquinão” pelo seu avô Vicente Lamos, acabou por carregar consigo até a sua morte em ser chamado por doutor Nelson, o “Maquinão”.
Ele era clínico geral formado pela PUC em Sorocaba. A cidade escolhida para viver e clinicar foi Itaporanga. Uma pequena localidade distante 255 quilômetros de Sorocaba e reconhecida como uma cidade de fé, pela construção da Abadia de Nossa Senhora da Santa Cruz, considerada uma das maiores igrejas abaciais do Brasil.
A tranquilidade de cidade do interior encantou o jovem médico Nelson Lamos de Oliveira a abrir o seu consultório em Itaporanga, após se casar com Aparecida Geni Soranz, com quem teve quatro filhos. Ele queria atender a população e as famílias carentes de Itaporanga e a região.
Com o passar do tempo, conta Valter Luiz de Azevedo, um morador de Sorocaba que nasceu em parto realizado pelo doutor Nelson, em 1963: “quando cresci, eu pude acompanhar o médico Nelson atender muitas famílias pobres dos sítios nas redondezas de Itaporanga”. “Eles não podiam pagar as consultas e levavam galinhas, leitoa, e frutas como honorários”.
Hélio Aparecido de Godoy, advogado em Sorocaba e, nascido e criado na juventude em Itaporanga, elogia o trabalho social do doutor Nelson “Maquinão” por sua generosidade e respeito para com o ser humano. É impossível quem morou em Itaporanga nos anos em que o médico Nelson atendia aos pacientes, não ter sido consultado por ele e ficar agradecido.
Hélio contou um episódio ocorrido com a sua mãe, dona Teresa, em 1979. Ela foi consultar o doutor Nelson após o nascimento da sua 14ª filha, pois tinha 45 anos de idade. Com a sua amizade de anos em atendimento a família Godoy, o médico deu risada ao olhar para dona Teresa e dizer: “amiga, você está grávida novamente”. O curioso é que Teresa era parteira em Itaporanga.
Com a sua fé católica, a futura mamãe da sua 15º filha, rogou a Santa Terezinha do Menino Jesus pela vida do bebê e, confiante, entregou ao médico Nelson os cuidados para o futuro parto. E até profetizou: “a menina que virá, irá me cuidar na velhice”. Aline nasceu forte e com saúde no hospital e maternidade de Itaporanga, no dia 5 de maio de 1980.
Recebeu o nome de Aline Vanessa de Godoy e hoje, adulta, cuida da mãe que está com 89 anos de idade. Hélio contou também que o seu pai e os seus amigos se cuidavam com o médico Nelson Lamos de Oliveira em todas as ocasiões em que tinham à necessidade de emergências de acidentes de trabalho na roça. Entre essas fatalidades, Hélio se lembra dos cortes de ferramentas, quedas de cavalo, picadas de insetos e uma lista enorme de ocorrências.
O jogador Paraná, como compadre do médico Nelson, que batizou a sua filha Cibelle, frequentava a cidade de Itaporanga em suas férias para jogar bola com ele. Paraná diz que o “Maquinão” era um tanque de guerra nas jogadas, pois ele era grandalhão e difícil de derrubá-lo.
Os jogos eram realizados no chamado “campão de terra batida” de Itaporanga. A amizade entre Paraná e o doutor Nelson foi compartilhada por centenas de moradores da cidade que passaram a frequentar os jogos de futebol. Essas visitas periódicas do Paraná à Itaporanga foram recompensadas com o título de “Cidadão Itaporanguense”. Ele orgulhosamente tem essa honraria na sua casa em Sorocaba, como uma homenagem recebida pela amizade com o doutor Nelson.
A Prefeitura Municipal de Itaporanga denominou o Centro de Saúde da cidade com o nome de Dr. Nelson Lamos de Oliveira. Uma merecida e eterna homenagem, disse o seu amigo Paraná.
Vanderlei Testa ([email protected]) Jornalista e Publicitário escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul