Vanderlei Testa
Marmita solidária
Domingo é dia de almoço em família. Domingo é dia de almoço no restaurante. Duas afirmações que ouvimos a todo instante nos finais de semana. A tradição desse dia em reunir pessoas em volta de uma mesa com macarronada, saladas, carnes, peixes, vem de longa data. Só que essa realidade não é para a maioria dos brasileiros. O outro lado da moeda mostra uma realidade a ser colocada em prática, com a solidariedade a quem não tem o que comer.
Recentemente, dom Julio Endi Akamine escreveu em artigo publicado no jornal Cruzeiro do Sul que existem 33 milhões de pessoas que passam por dificuldades de se alimentar no Brasil. Isso de um total de mais de 100 milhões de habitantes em situação de carência alimentar no País. A campanha da Fraternidade de 2023 destaca no seu tema a Fome e a Fraternidade. O lema: “Dai-lhes vós mesmos de comer”, apela aos cristãos à necessidade de proporcionar comida aos mais necessitados.
Domingo, 10 horas da manhã, acompanhei na praça do Mosteiro de São Bento, lado da rua Artur Martins, um ato humanista que mexeu comigo e com a sensibilidade de quem estava passando em direção à missa da Igreja de Sant’Ana. O grupo de voluntários do Projeto Marmita Solidária estava distribuindo o almoço para 200 moradores de rua. Eles eles também recebiam sobremesa e a uma garrafa de água. Cada um desses homens e mulheres que passaram a noite dormindo nas calçadas do centro da cidade e em abrigos improvisados em frente de lojas, recebia a sua marmita com arroz, feijão, frango e o amor dos voluntários em gesto de solidariedade.
Conversei com a Meire, coordenadora do projeto. Ela mora no Bairro de Aparecidinha, Jardim Josane. Uma mulher sorridente que na sua simplicidade lidera um trabalho digno de apoio e de divulgação. O entusiasmo e a motivação que ela passa à sua equipe são contagiantes. Uma perua baú foi cedida por um voluntário para transportar as marmitas. É o ponto de encontro das duas centenas de pessoas, que aguardam a retirada da “marmitex”. É a hora do apetite a ser saciado.
Perguntei a um dos homens sobre a sua vivência como morador de rua e a importância dessa marmita com o almoço no seu domingo. Ele se chama Edmilson e tem 44 anos de vida. Há seis anos saiu de Apiaí, passou por Capão Bonito e vive nas ruas de Sorocaba há cerca de 1.800 dias. Edmilson é a simpatia em pessoa. Ao lado da companheira que encontrou nas suas andanças pela cidade, ele comparece todos os domingos para garantir o almoço solidário do casal. Durante a semana, Edmilson diz que sai catando latinhas e materiais recicláveis para vender e usar o dinheiro para comprar pão e fazer um lanche ou, quando é possível, almoçar no Bom Prato.
As refeições são preparadas desde as primeiras horas da madrugada de cada domingo para estarem sendo servidas às 10 horas, contou a Meire. As cozinheiras voluntárias e ajudantes do preparo das centenas de quilos de arroz, feijão e carnes, são moradoras de Aparecidinha. Perguntei à Meire o que a levou a assumir esse compromisso semanal. Ela disse que é o resultado de uma promessa feita em suas orações para a cura de uma enfermidade do marido. Foi daí que a fé da Meire a levou a criar o projeto Marmitas solidárias. O seu maior presente aconteceu com a cura e a sua promessa cumprida inicialmente a 30 pessoas moradoras de rua que recebiam as suas marmitas. O milagre da multiplicação das doações de alimentos pela população e a inclusão de novas voluntárias ao projeto, resultou em crescimento significativo dos moradores de ruas atendidos. De 30 para 200 marmitas semanais entregues é o fruto do amor ao próximo, citado nas bem aventuranças do Evangelho de Mateus: “Porque tive fome e me destes de comer”, cita a Escritura Sagrada.
O apelo do lema da Campanha da Fraternidade no Brasil é exercido na prática por essa família de voluntários que fotografei para ilustrar este artigo. Aos domingos a rotina deles é levantar cedinho e se dirigir à cozinha de uma casa em frente à Escola Marco Antônio Mencaci, Jardim Josane. Panelões de arroz, feijão, mistura com carnes e ou peixes, ovos, verduras, legumes, estão no cardápio da marmita solidária.
Perguntei a Meire: qual é o seu maior desafio? Ela respondeu que é conseguir semanalmente doações de alimentos, água e sobremesa, para continuar a fornecer as 200 marmitas solidárias ou até aumentar esse número. Quem quiser colaborar com a dona Meire no projeto Marmita Solidária deve contatar o telefone (15) 99794-0907 ou se dirigir pessoalmente à sua casa, na rua 7, nº 51, Jardim Josane.
Vanderlei Testa([email protected]), jornalista e publicitário, escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul