João Alvarenga
Palavrões e palavrinhas
Uma professora do Fund2, preocupada com o excesso de palavrões que os alunos soltavam, durante as aulas, resolveu moralizar a linguagem da turma com um decreto: “A partir de agora, quem falar palavrão terá que trazer um litro de leite à escola”. Nisso, um dos alunos dispara: “Xi, meu pai vai ter que comprar um laticínio (a galera caiu na risada)”. Ninguém sabe se isso aconteceu realmente; porém, a historinha ilustra uma dura realidade: embora censurado pelos educadores, o palavrão, lamentavelmente, está presente também no ambiente escolar.
Antes, seu uso era restritíssimo e reprovado pela sociedade. Agora, perece que liberou geral. Ou seja, é “chique” falar obscenidades em público e para o púbico, principalmente diante das câmeras. Muitas vezes, o termo inadequado brota de forma espontânea, sempre na hora e nos lugares indevidos. Muitos estudantes falam palavras de baixo calão com a maior naturalidade do mundo. E o xingamento, às vezes, é cabeludo ou ofensivo. Mas, quando percebem que tal expressão não caiu bem, alguns até se desculpam pelo deslize, com o popular chavão: “foi mal, prof”.
Porém, outros, já nem tanto, porque estão tão acostumados aos impropérios que nem se dão conta de que isso é ofensivo. É bom lembrar que a máxima dos antigos educadores ainda prevalece: “A escola é templo do saber”. Por isso, devemos zelar pela boa conduta moral dos educandos. Isso passa também pela linguagem, pois o que falamos revela quem somos e o que temos no coração. Cabe aos professores orientar o bom uso da língua, a fim de promover o nível intelectual do falante. Por isso, são ensinadas as regas gramaticais e o uso correto de determinadas palavras, tanto na escrita quanto na fala.
Todavia, como o danado do palavrão está inserido até na televisão, muitos pensam: se os pais falam, se os personagens de filmes e novelas também rasgam o verbo, é sinal de que “tá tudo liberado, mano”. Mesmo assim, devemos policiar o linguajar chulo, não só para elevar o padrão culto do alunado, mas para manter o respeito e a civilidade. Aliás, há um objetivo maior: garantir que a tolerância não passe de mero discurso político.
Todavia, ensinar às criancinhas que falar palavrão é errado tem sido um desafio e tanto, porque, muitas vezes, o mau exemplo parte de quem deveria cuidar não só da língua, mas da boa conduta moral, principalmente pela posição assumida. Pois, quando uma autoridade ofende, grosseiramente, um adversário, mostra, no mínimo, descontrole para o cargo que ocupa. Além disso, torna-se mau exemplo à nação.
No entanto, alguém pode indagar: mas, o palavrão deve ser banido da sociedade? Algo impossível, porque falar turpilóquios é algo inerente ao ser humano. Infelizmente, tais termos fazem parte do comportamento das pessoas, independente do nível social ou do grau de instrução.
Na literatura, há vários exemplos. A obra “O Cortiço”, de Aluísio Azevedo, traz muitas expressões chulas, porém é mera ficção. As poesias de Bocage e Gregório de Matos Guerra, por carregarem no linguajar inadequado, até hoje são estigmatizadas.
Estudiosos observam que xingamentos são forças de expressão que surgem num instante de extremo destempero. Funcionam como descargas emocionais, quando alguém passa a ser objeto de ódio. Isso é motivado por mágoas e pode revelar desejo de vingança. Mas, muitas vezes, o ato de ofender não passa de mero desabafo. Isso é muito comum no trânsito e nos jogos de futebol, onde as mamães são ofendidas. Muitas não dirigem nem frequentam os estádios.
Para ser justo, é bom lembrar que não é só o brasileiro que tem “a boca suja”, pois o palavrão está presente na realidade de vários países, até entre os árabes. Dizem que os latinos lideram tal prática, pois quando não falam, fazem gestos obscenos. Porém, se fizéssemos uso das palavrinhas mágicas (desculpe, por favor, muito obrigado), muitos conflitos seriam evitados. Bom domingo!
João Alvarenga é professor de redação