João Alvarenga
Plataforma da insegurança
Segundo dados das autoridades policiais, houve um aumento de 46% no número de roubos, furtos e tráfico de drogas no entorno do terminal
“Todos os dias é um vai-e-vem / A vida se repete na estação / Tem gente que chega pra ficar / Tem gente que vai pra nunca mais”. Consagrados na voz da cantora Maria Rita, os versos que abrem esta reflexão são da canção “Encontros e Despedidas”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, e se ajustam perfeitamente a realidade de qualquer estação, seja ela de trem ou um terminal intermunicipal. Seja acanhada ou monumental como a do Tietê, em São Paulo.
De certo modo, a letra ilustra, com maestria, o burburinho das plataformas, as chegadas e despedidas, as promessas e os sonhos desfeitos. Risos e lágrimas. Tristezas e alegrias. Todas as emoções estão presentes em tal ambiente. A ansiedade de quem espera a chegada de um parente distante ou a dor do adeus a um amor desfeito.
No entanto, o que a música não traduz é a insegurança que muitos passageiros sentem ao circular por uma rodoviária, principalmente quando a área de embarque e desembarque se tornou um ponto visado por criminosos que circulam em seu entorno e praticam todo tipo de crime.
Todavia, é notório que áreas de grande fluxo de pessoas (estações, portos e aeroportos) sempre configuram pontos de tensão e riscos, pois num mesmo espaço circulam pessoas boas e, também, quem está a fim de tirar proveito da situação. É exatamente o que acontece com a nossa rodoviária, a popular “Rodocenter”, como bem ilustrou este matutino numa ampla matéria da repórter Virgínia Kleinhappel Valio, num desses nossos domingos.
A reportagem não deixou dúvidas: quem precisa viajar sente medo de circular naquela região em certos horários. Segundo dados das autoridades policiais, houve um aumento de 46% no número de roubos, furtos e tráfico de drogas no entorno do terminal. Com isso, os comerciantes e moradores próximos à Rodocenter estão apavorados com o que vem ocorrendo.
Pelo que consta, o perigo aumenta, significativamente, à noite, pois há pontos escuros em várias ruas que dão acesso ao terminal. As vítimas de assalto frisam que a iluminação é fraca e isso favorece a ação da bandidagem. A maioria das ações é praticada por viciados em drogas (maconha e crack) que roubam para adquirir o produto, facilmente encontrado com pequenos traficantes que se misturam entre os moradores em situação de rua que ocupam algumas áreas próximas. Mas, há registros de crimes cometidos até durante o dia. Assim, por mais que haja policiamento no interior da estação, as áreas de acesso estão desguarnecidas. Também quase não há vagas para estacionar e muitos estacionamentos não funcionam no período noturno. Isso aumenta o risco de uma abordagem indesejada, pois quem precisa ir à rodoviária estaciona o veículo em ruas próximas.
Outro agravante: no entorno, há muitos pontos comerciais fechados e casas abandonadas. O pavor de um assalto fez muitas famílias se mudarem. Isso confere um ar de decadência àquela área que, num passado não tão distante, já teve seu discreto charme e até fazia inveja a muitas cidades da região, pois não contavam com uma estação rodoviária do porte da nossa.
Tanto que, nos idos de 1980, quem desembarcava, no Terminal Rodoviário de Sorocaba, tinha a melhor das impressões, pois a rodoviária de muitas cidadezinhas tinha aquele ar interiorano. Naquela época, Sorocaba estava bem servida em termos de rodoviária, pois havia uma sensação de segurança.
Pois bem, o tempo passou e o modelo que, no passado, atendida muito bem à demanda da cidade, parece que chegou ao seu limite. Tanto que a Prefeitura pretende construir, num prazo de dois anos, uma nova rodoviária no quilômetro 106 da rodovia Raposo Tavares.
Por hora, enquanto a cidade aguarda pelo novo terminal, toda ação necessária deve ser realizada para garantir o sossego dos passageiros, principalmente no que tange ao combate ao tráfico de droga e à assistência aos que adotaram o local como abrigo permanente. Bom domingo!
João Alvarenga é professor de redação