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João Alvarenga

A floresta é aqui

Não são os bichos os intrusos. Na verdade, são os humanos que estão desmatando as florestas e, com isso, os animais são obrigados a procurar alimento em meio à selva de pedra

18 de Fevereiro de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Amigo leitor, não se espante se, por obra do acaso, surgir um gambá no seu quintal. Isso acontece, em nossa cidade, com mais frequência do que se imagina. Numa dessas madrugadas tranquilas, despertei com um ruído estranhíssimo nos fundos da minha casa. Não parecia rusga de gatos, algo que sempre ocorre no telhado da lavanderia, pois volta e meia, alguns felinos territorialistas se estranham. Daí, ninguém consegue dormir mais. Porém, retornando ao que narrava antes, o tal do barulho era um som que nunca tinha ouvido antes em nossa redondeza. Algo impossível de descrever em palavras.

Meio temeroso, decidi verificar do que se tratava. Quando acendi a luz para ir ao quintal, levei um baita susto, já que um bicho que parecia mesmo um gambá ou, quem sabe uma raposa, escalou o mamoeiro e desapareceu feito raio. Fiquei com aquela imagem surpreendente na cabeça. Mas, como não fotografei o invasor, também não pude precisar que intruso era e o que buscava. Tudo bem que o lixo estava completamente revirado.

Compartilhei o ocorrido com alguns parentes e amigos; mas, além do caso virar piada, ninguém dava crédito à narrativa. Então, desisti de fazer um Boletim de Ocorrência sobre o fato, para não cair no ridículo. Todavia, para meu alívio, ao abrir o Cruzeiro, num domingo desses, percebi que não estou sozinho nessa situação inusitada, pois a matéria da repórter Thaís Marcolino não deixava dúvida: os bichos estão invadindo áreas urbanas da região metropolitana.

A reportagem dava conta de que uma jararaca fora encontrada circulando sem pressa num terreno, bem no centro de Araçoiaba da Serra. Porém, não é a primeira vez que isso acontece e, com certeza, nem será a última. Afinal, cada vez mais, muitos animais da fauna brasileira estão sendo flagrados até mesmo dentro das residências. Até uma jaguatirica invadiu o banheiro de uma casa, num condomínio de luxo nos arredores da Grande São Paulo.

De acordo com um levantamento da Polícia Ambiental, mais de cem animais já foram resgatados e ambientes urbanos, inclusive, dentro de residências. Já encontram cobra no interior de motor de carro e gambás e guaxinins em lavanderias de casas. As aparições se dão da forma mais inesperada possível. E, quase sempre, a pessoa que é surpreendida leva um susto daqueles, pois não imagina encontrar uma cobra entre as plantas do jardim. As reações são as mais imprevistas, porque nem sempre sabemos lidar com o inesperado.

Recordo-me que, neste espaço mesmo, relatei, no ano passado, a curiosa história de um tamanduá-bandeira que invadiu uma escola em Piedade. Não houve correria entre a criançada porque a invasão se deu no período de férias. Caso contrário, estava armada a confusão. Parece que, por dias a fio, o tal tamanduá invasor foi assunto nas rodas de conversa em Piedade. Houve até memes na internet. Os mais engraçadinhos diziam que “já que os humanos estão desprezando o saber, o bicho queria se alfabetizar, para se dar bem na vida”.

Piadinhas à parte, a verdade é que o assunto é sério e merece uma reflexão. Muita gente pode se perguntar: por que os bichos estão invadindo as cidades? A resposta é simples: não são os bichos os intrusos. Na verdade, são os humanos que estão desmatando as florestas e, com isso, os animais são obrigados a procurar alimento em meio à selva de pedra.

Desse modo, os pássaros também se sentem ameaçados e “adotam” as cidades para sobreviver. Assim, fazem ninhos nos locais que menos imaginamos: postes, vãos de talhados, varandas de apartamentos... até em ar condicionado já botaram seus ovinhos. Com frequência, escutamos o canto de bem-te-vis ou as assanhadas maritacas que fazem uma baita farra quando amanhece e anoitece.

Por fim, caso aviste um animal silvestre, não tente pegá-lo, muito menos lhe cause danos, pois é crime previsto em lei. Imediatamente, chame a Polícia Ambiental pelo telefone (15) 3238-2050. Bom domingo!

João Alvarenga é professor de redação