Celso Ming
Nova matriz desenvolvimentista
Política desenvolvimentista é uma coisa vaga. A ideia é alavancar crescimento econômico e criação de empregos sem apego ao equilíbrio das contas públicas
O PT e os partidos de esquerda da base do governo já não querem apenas a derrubada dos juros e o fim da autonomia do Banco Central (BC). Querem o que chamam de política econômica desenvolvimentista.
Se o presidente Lula for adiante nessas intenções haverá consequências, com probabilidade de que se transforme num tiro no pé do governo.
Política desenvolvimentista é uma coisa vaga. A ideia é alavancar crescimento econômico e criação de empregos sem apego ao equilíbrio das contas públicas. Pressupõe sempre mais despesas do governo e, portanto, despejo de dinheiro público -- de maneira a puxar pelo aumento do consumo e da atividade econômica. Esse ambiente é incompatível com juros altos, não só porque encareceriam o crédito e os investimentos, mas porque juro alto só existe com escassez de moeda.
Explicando melhor: juro é um dos preços do dinheiro (o outro é o câmbio), que está sujeito à lei da oferta e demanda. Dinheiro em abundância derruba o preço do dinheiro, ou seja, os juros. Dinheiro curto aumenta os juros. A política monetária do BC se resume a tirar dinheiro do mercado (aumentar os juros) quando a inflação é alta e deixar que ele aumente quando a inflação é baixa.
Política desenvolvimentista foi o que pretendeu fazer a presidente Dilma, com a então chamada Nova Matriz Econômica. Mandou baixar os juros a canetadas, acionou o BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica para derramar crédito barato no mercado. O resultado foi o desastre que se viu: aumento do rombo fiscal (que o governo tentou disfarçar com as pedaladas), esticada da inflação, alta do dólar em reais, queda abrupta da confiança e dos investimentos, disparada da dívida pública e tal.
Além do aumento (artificial) do PIB, o governo Lula parece gostar de mais inflação porque ela tende a aumentar a arrecadação e, supostamente, a atenuar o déficit público.
Esses efeitos que se produziram no governo Dilma seriam equivalentes aos que aconteceriam se o governo Lula conseguisse acionar sua política desenvolvimentista. Por isso, seriam um tiro no pé.
A cotação do dólar subiu 4,6%, para R$ 5,27, depois de operar abaixo dos R$ 5,00 no dia 2 de fevereiro, porque os agentes econômicos trataram de se defender de mais essa possível lambança.
Mas até que ponto o presidente Lula conseguirá esse objetivo? O maior obstáculo será o Congresso. Até agora, deputados e senadores permaneceram quietos, porque acabaram de tomar posse. Mas deverão tentar botar freios no governo. As resistências à aprovação do voto de qualidade no Carf mostram que esse movimento já começou.
Celso Ming é comentarista de economia