João Alvarenga
Chovendo no molhado
Há muitas vias que precisam de um recapeamento geral; mas, por enquanto, o conselho é tomar cuidado no trânsito, porque, do nada, um buraquinho vira uma cratera

Talvez, quando esta crônica for publicada, o aguaceiro que tem abatido o País, desde a virada do ano, tenha dado uma trégua. Duvido, pois pelo que tudo indica, muita água vai cair do céu nos próximos meses. Afinal, leitores, estamos em plena estação das águas, ou seja, o verão brasileiro. Explico: trata-se de um período, tradicionalmente, aguado.
Além disso, segundo os meteorologistas, 2023 viverá sob os efeitos da famosa La Ninã, fenômeno climático complicado de explicar e difícil de entender, mas que tem por base o resfriamento das águas do Pacífico. Segundo os entendidos, os ventos, ao soprarem com intensidade sobre o Pacífico, deslocam a camada de água quente para o continente.
Para complicar a equação líquida, os místicos alertam: este ano estará sob a influência de Iemanjá e Oxum, orixás das águas. Outro detalhe, os astrólogos alertam, ainda, que as reações da Lua influenciarão muito as marés até março. Resultado: riscos de raios, vendavais, temporais e chuvas com granizo. Parece que isso se confirma, pois em muitas partes do País já foram registrados casos de quedas de barreiras, destruição de estradas, desmoronamentos de casas, alagamentos, além de óbitos. Muitas famílias estão desabrigadas em Minas, Rio e Espírito Santo, entre outras partes do território nacional.
Assim, todo mundo está assustado porque, em tão pouco tempo, tem chovido mais do que o necessário. Muitos rios transbordaram e as represas estão no limite. Além disso, nem parece que estamos em pleno verão, pois o solzinho não dá as caras. Para ser ter uma ideia, dez capitais registraram manifestação pluviométrica acima da média. Com isso, 66% estradas brasileiras estão em condições precaríssimas. Muitas rodovias interditadas levarão meses para serem recuperadas.
Por aqui, os estragos se espalham pela malha viária da cidade, pois o asfalto não tem resistido ao trânsito pesado combinado com as águas que não são escoadas, corretamente, já que muitas tampas de bueiro e bocas de lobo estão entupidas de lixo. O entupimento, na verdade, é resultado do descarte inadequado de garrafas pets e sacolinhas plásticas. Tudo isso impede a passagem da água e as vias ficam perigosas.
Como a chuva não dá trégua, a Prefeitura não consegue efetivar a necessária operação “tapa-buraco”. Há muitas vias que precisam de um recapeamento geral; mas, por enquanto, o conselho é tomar cuidado no trânsito, porque, do nada, um buraquinho vira uma cratera. Inclusive, foi noticiado, na semana passada, neste matutino, que a vicinal Estrada dos Martins, do Bairro Caguaçu, sofre os efeitos do mau tempo, já que há trechos que só um carro, por vez, consegue passar. A buraqueira, ao longo dos 15 quilômetros da estradinha, é geral, e os moradores temem ficar isolados, já que há mais previsão de chuvas.
Por outro lado, a Prefeitura pede paciência aos moradores, pois assinou, em 2022, um convênio com o governo paulista para melhorar as condições da via que atende ao bairro, bem como a Estrada da Campininha, também carente de atenção. O problema é esperar, já que a umidade aliada à burocracia retardam as obras.
Como se não bastassem os prejuízos causados pelas águas, as mulheres, em suas rotinas domésticas, sentem na pele o drama do acúmulo de roupas sujas, já que nem todas as famílias dispõem de recursos para contar com o help de uma lavanderia. Aliás, esse serviço sempre cresce neste período.
Se você é um cara atento deve notar que as casas sofrem um desgaste maior com esse clima, pois o bolor fica mais visível nas paredes, também as goteiras aparecem, as gramas saem do controle e os jardins se tornam “florestinhas”, pois o jardineiro está de férias.
Apesar de todos esses transtornos, é bom não reclamar, pois com os mananciais empanzinados, o governo não terá desculpas para aumentar a conta de energia. Não se esqueça de que Sorocaba já viveu seus dias de deserto. Bom domingo a todos.
João Alvarenga é professor de Redação