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Dom Julio Endi Akamine

Vencer o mal

O pecado é identificado enquanto tal, mas ao pecador se oferece um caminho de conversão e de reparação

22 de Janeiro de 2023 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
A correção é sinal e gesto de amor, feita de verdade e de caridade
A correção é sinal e gesto de amor, feita de verdade e de caridade (Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

Para vencer o pecado, Jesus nos ensinou a necessidade de duas ações concretas: a correção do pecador (cf. Mt 18,15-20) e o perdão fraterno (cf. Mt 18,21-19,1)

A correção é sinal e gesto de amor, feita de verdade e de caridade. Ela só é possível onde a pessoa é acolhida nos seus limites e não é julgada se erra, é absolvida se é culpada, é procurada quando se perde e é perdoada quando peca. Além de tudo isso a correção é um gesto que constrói e reconstrói a fraternidade.

A condição indispensável para corrigir o outro é a aceitação incondicional do outro. O outro só consegue aceitar críticas sobre a conduta dele quando se sente acolhido incondicionalmente. Caso contrário, a crítica é experimentada como agressão contra a qual precisa se defender.

A correção fraterna é o antídoto para a contraposição viciosa, para a crítica maldosa e o endurecimento defensivo. Ela é necessária em uma comunidade feita de pecadores e que é chamada à perfeição cristã. Essa perfeição cristã não é uma conquista individual, nem se baseia em heroísmo egoísta. Ela só pode ser alcançada com a ajuda da graça de Deus e dos irmãos que nos corrigem.

O pecado sempre causa escândalo, provoca o sentimento de revolta e pode, se não for corrigido, arrastar outros ao mesmo pecado. O escândalo se alimenta da fofoca e destrói o pecador, jogando-o ainda mais no pecado. Nesse sentido, a correção fraterna é o oposto do escândalo, porque ela cerca o pecador de cuidado e tece em volta dele uma rede de proteção contra o seu próprio pecado para arrastá-lo ao bem e à conversão.

A estratégia de eliminar a maçã podre tem o objetivo de impedir a contaminação do mal e preservar os outros de sua influência. Esse modo de agir, no entanto, pode jogar o pecador ainda mais fundo no seu pecado. A correção fraterna condena com firmeza o pecado e opõe a ele um muro, mas procura recuperar o pecador e reconstruir a fraternidade dilacerada pelo pecado. Para tanto é preciso justiça e verdade: o pecado é identificado enquanto tal, mas ao pecador se oferece um caminho de conversão e de reparação.

Nesse sentido, é preciso não desistir do pecador e lançar mãos de todos os meios para trazer o pecador ao bom caminho: o diálogo pessoal, a mediação de outros, a punição reparadora. Também este último remédio não visa eliminar o pecador, nem exclusão do amor. A finalidade é a de que o pecador se converta e viva.

Normalmente o nosso relacionamento com o outro se baseia no relacionamento que o outro tem conosco: se o outro é gentil, procuro ser gentil com ele; se o outro é bom, procuro também ser bom para ele. Busco tratar bem o outro, para ser tratado bem. Esforço-me em ser prestativo, porque nutro a esperança de que o outro também poderá me prestar um favor.

Jesus propôs uma revolução: o fundamento da minha relação com o outro é a relação que Deus tem comigo: o que Deus fez e faz por mim é o critério para o modo como devo tratar os outros. E isso vale também para a relação com quem me ofende: eu fui perdoado de uma dívida infinita, por isso considero a dívida dos outros pequena e quase desprezível. Para receber o perdão de minha dívida, o Pai me entregou o Filho. Por que negar o perdão aos meus
devedores?

É um paradoxo: o pecado do outro, que tanto me ofende e me incomoda, é o que me ajuda a me tornar perfeito como o Pai Celeste é perfeito! O mal que sofro me dá a oportunidade de perdoar e de amar o irmão assim como o Pai me amou e me perdoou em Cristo. O pecado só pode ser vencido quando oponho a ele o muro do perdão e, fazendo, isso me assemelho a Cristo que perdoou os que o puseram na cruz.

O perdão de Deus é o coração da vida cristã. Pelo perdão divino eu me tornei filho de Deus e irmão dos outros. Perdoando o irmão eu me torno verdadeiramente filho do Pai que me amou e me perdoou.

Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba