Professor João Alvarenga
Sonho de consumo
Richard Bach, nos alerta que devemos ter cuidado com o que pedimos ao universo, "porque podemos nos arrepender, caso nosso pedido seja atendido"

Estimado leitor, qual é o seu sonho de consumo? O que você deseja obter em 2023? Aproveite que o ano está apenas começando para rever seus planos, a fim de atingir seus objetivos. Afinal, todo mundo tem um sonho de consumo. Não se trata de conquistas previsíveis, tais como: um novo emprego ou um novo amor. Nem tão pouco as típicas promessas da virada do ano, como deixar de beber ou começar uma dieta rigorosa. Até porque são esquecidas depois de algum tempo.
Assim, pense em algo mais sofisticado. Sim! Um objeto que deseja muito, mas ainda não tem. Pode ser um bem material que parece inacessível, mas chega facilmente às celebridades. Ou, então, pode ser um sentimento altruísta, como desejar que amanhã, segunda-feira, o mundo desperte envolvido por uma onda de paz. Ou que a alegria nunca se acabe. Quiçá a política abandone o radicalismo e todos caminhem irmanados pelo bem do País.
Utopias à parte, sonhar faz parte do gênero humano. Aliás, dependendo do desejo, é uma força que move a própria economia. E sonhar, como dizem, não é pecado. Pecado é não ter coragem de lutar para realizar o que se encontra gravado na imaginação. Tudo bem que, às vezes, há certos desejos que beiram à loucura. Ou seja, são impossíveis de se tornarem realidade.
Certa vez, a escritora Clarice Lispector contou a curiosa história de uma garotinha que desejava algo estranho: que o açúcar de sua goma de mascar jamais se esgotasse. Era, no dizer da autora, o ideal de eternidade que a humanidade tanto almeja. Porém, no conto, a personagem acabou por se cansar de mascar o tal chiclete e, fortuitamente, abandonou-o debaixo de uma cadeira. A narrativa ilustra que, muitas vezes, desejamos tanto algo e, depois que conquistamos, perde o encanto. É como uma criança que faz uma gritaria danada para ganhar um carrinho, depois que tem o brinquedo, o deixa de lado.
Já o autor da belíssima obra “Fernão Capelo Gaivota”, Richard Bach, nos alerta que devemos ter cuidado com o que pedimos ao universo, “porque podemos nos arrepender, caso nosso pedido seja atendido”. Explicação: o autor em questão desejava muito ser aviador. Pediu tanto que acabou pilotando um avião na Guerra do Vietnã.
Há casos em que certos desejos beiram à bizarrice, como pedir aos céus que as lâminas do aparelho de barbear jamais se gastem. Nossa, seria uma baita economia, já imaginou? Ainda mais, agora, que esses aparelhos descartáveis
estão caríssimos e são pouco eficientes. Muitos não garantem mais do que duas barbeadas!
Um professor de redação imaginou uma caneta vermelha, cuja tinta nunca se esgotasse. Seria ótimo, pensou. Afinal, poderia corrigir mil provas e jamais ficaria na mão, principalmente, nos fins de semana, quando a tinta resolve acabar, justamente no final de domingo, e ainda há uma pilha de redações para corrigir.
Já que estamos no terreno do consumismo, há sorocabanos que desejam um cartão com crédito ilimitado. Assim, poderiam consumir tudo o que quisessem, comprar o que desejassem, visitar todos os lugares imaginados, sem a mínima preocupação de estourar o tal do limite. Parece ótimo, mas o problema seria pagar a fatura, que viraria uma “fratura” no bolso.
Concluindo, como esta crônica não passa de mero delírio, voltemos à realidade, porque, amanhã, a vida pede passagem.
João Alvarenga é professor de redação