João Alvarenga
A velhice que chegou

CRÔNICAS SOROCABANAS
Recentemente, este matutino estampou uma manchete espantosa: o Brasil está envelhecendo. Estimativas apontam que, em 2050, a população de idosos será mais do que o dobro. Se isso se confirmar, Sorocaba terá 218 mil habitantes com idade superior a 60 anos. Todavia, já é possível notar que a terceira idade se faz presente em maior número na cidade. Para quem duvida, basta dar uma passadinha nos postos de saúde, hospitais ou verificar o transporte público. Aliás, eu me incluo nesse contingente e, constato, na pele, os versos de Cazuza: “O tempo não para”.
Ainda que seus efeitos sejam imperceptíveis, na adolescência, porque na juventude “tudo é divino e maravilhoso”, o tempo é inexorável, pois devora a vitalidade. Pelo menos é esse o sentimento que muitos poetas evocam, quando se atrevem a refletir sobre aquilo que eufemisticamente passamos a chamar de a “melhor idade”. Assim, sobram versos que tematizam os efeitos do tempo sobre a matéria.
Há quem diga que o lado mais cruel do envelhecimento esteja na percepção de que a existência tem prazo de validade. Mas, só sentimos a real passagem do tempo quando há uma partida repentina. Assim, de súbito, entes queridos, amigos da infância e conhecidos se tornam lembranças no álbum de nossa memória.
Quiçá, essa verdade fique mais nítida, quando um ídolo da massa diz um súbito adeus. Para a maioria, tal perda se torna uma dor inquebrantável, pois muitos fãs se apegam aos artistas, como se fossem membros da família. As despedidas ao roqueiro Erasmo Carlos exemplificam, muito bem, a ideia de perda, ainda que seu legado permaneça.
Diante dessas circunstâncias, questionamos: será que aquele cara, tão cheio de vida (com muitos planos para futuro) partiu no tempo certo? Fez tudo o que queria? Ficaram pendências? Com certeza, não teremos tais respostas! Enquanto a idade avança, envelhecemos na cidade. Mas, será que a cidade está pronta para essa mudança de paradigma?
Logo, a questão não é envelhecer, mas como envelhecer. Já que isso é inevitável, então, que seja de forma saudável.
João Alvarenga é professor de redação.