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Celso Ming

O Copom enfrenta o rombo fiscal

Nem o PT nem o presidente eleito devem ter gostado da firmeza com que o Banco Central vem tratando sua política de juros

09 de Dezembro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

 

Como esperado, o Copom manteve os juros em 13,75% ao ano, mas foi mais duro com o aumento do novo rombo nas contas públicas que vem vindo aí com a PEC da Transição. Por três vezes, o curto comunicado divulgado logo após a reunião mencionou os problemas na área fiscal.

Nem o PT nem o presidente eleito devem ter gostado da firmeza com que o Banco Central vem tratando sua política de juros. Fortes sinais mostram que, para eles, a política monetária está descasada do que entendem como necessidade de maior afrouxamento das contas públicas, que está para ser decidido pelo Congresso com o patrocínio do governo que tomará posse em janeiro.

Inúmeras vezes, o presidente Lula mostrou que não gosta de que o Banco Central use sua política de juros apenas para empurrar a inflação para dentro da meta. Quer que o Banco Central seja gato que olhe para dois peixes: para a inflação e para o crescimento econômico, expressão que às vezes é substituída por “situação do emprego”. Como hoje a tendência do PIB é de desaceleração, vê-se que o presidente eleito gostaria que, em vez de manter elevados, o Banco Central reduzisse os juros básicos, a Selic.

Outro sinal de que o PT quer outro tipo de política de juros foi a tentativa de contrabandear para o texto da PEC da Transição a proposta de que passe a ser adotada na condução dos juros a chamada Teoria Monetária Moderna, pela qual o Banco Central teria de emitir moeda para cobrir rombos fiscais, sem necessidade de que depois se encarregasse de enxugar o mercado do excesso de dinheiro. É proposta que demoliria a atual política de metas de inflação, que tem por objetivo combater a alta do custo de vida.

Em boa hora, o ex-ministro da Fazenda do governo Dilma e membro da equipe de Transição para a área econômica Nelson Barbosa advertiu terça-feira que “não devemos reinventar a roda; a meta de inflação funciona no Brasil”.

O duplo mandato do banco central (o de combater tanto a inflação como o desemprego) é uma disposição legal nos Estados Unidos. Mas não funciona como se imaginava quando foi instituído. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) finge que também olha para a situação do emprego apenas para cumprir a lei, mas, na prática, trabalha para conter a inflação na meta, que por lá é de 2% em 12 meses. Ou seja, nos Estados Unidos, a meta de emprego é subsidiária da meta de inflação. Se há pleno-emprego e a demanda está aquecida demais é preciso aumentar os juros para atacar a inflação. Se acontece o contrário, a demanda cai, o risco de inflação se reduz e o Fed pode reduzir os juros.

Celso Ming é jornalista e comentarista de economia