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Vanderlei Testa

O beijo do Paraná na mãe, rumo à Copa do Mundo

O beijo carinhoso do Paraná no rosto da dona Maria é digno de um artista pintar como símbolo sublime do significado maior do sentimento de amor.

15 de Novembro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Arte VT)

Hoje é dia de comemorar a Proclamação da República. Há uma inspiração cívica às pautas dos jornais e veículos de comunicação para esta data que relembra 1889, quando houve a mobilização do Exército e de republicanos civis contra a monarquia instalada no Brasil desde 1822. História que resulta em feriado nacional para os brasileiros aproveitarem viajar desde o último final de semana, inclusive ao Qatar rumo à Copa do Mundo.

O assunto principal desta semana é a Seleção do Brasil que vai à busca da sua sexta estrela de campeã, o Hexa. Depois de anos de preparação pelo técnico Tite, os jogadores brasileiros assumem a camisa verde e amarela de 212 milhões de torcedores que estarão de 20 de novembro em diante torcendo pela conquista desse título. Faltam apenas nove dias para o Brasil jogar o seu primeiro jogo no Estádio Nacional de Lusail, contra a Seleção da Sérvia, dia 24 de novembro às 16 horas.

Volto no tempo e na imagem que ilustra este texto. A fotografia foi tirada em 1966, na casa do jogador Paraná, em Sorocaba. Fiquei admirando esse momento reproduzido entre a mãe do jogador Ademir de Barros em sua despedida rumo à Copa do Mundo da Inglaterra. Cercados por amigos, entre eles o Paschoal Pólice, o irmão do Paraná ainda criança, Candinho, a Kombi cedida pelo amigo Scherepel para leva-lo ao aeroporto de Congonhas, a maleta da seleção, o uniforme oficial do jogador e o beijo do filho na mãe. Sugiro parar um pouco a leitura para contemplar esse momento único entre os dois, mãe Maria de Souza Barros e filho Ademir de Barros. Com certeza, foram segundos ou minutos de lembranças da dona Maria com o filho Ademir na sua infância nos campinhos do bairro. Aquele serelepe garotinho saia de casa todos os dias para estar com os amiguinhos nos terrenos de terra correndo atrás da bola. Foi nesse ambiente esportivo rude e da várzea que Ademir cresceu amando o que foi predestinado a ser quando crescesse: jogador de futebol.

A palavra “Paraná” acabou se tornando o nome da sua carreira futebolística. Ademir nasceu em 1942, Cambará, no estado do Paraná. Era o menino que se destacava em dribles e movimentação em campo que atraia os treinadores. A sua vivacidade, energia e vontade de ser um atleta famoso, o levava a assistir jogos com os pais e irmãos para aprender as táticas dos jogadores mais experientes. Um dia, já na sua juventude, acabou por treinar no Esporte Clube São Bento de Sorocaba. Foi sucesso como ponta-esquerda no São Paulo FC.

Ao ver o beijo na dona Maria, imaginamos o Paraná dando o seu agradecimento naquele gesto tão humano e carinhoso na mulher que o gerou e o fez ser um homem de respeito e sabedoria nas suas escolhas de vida. Se houvesse ali um aparelho para medir a frequência cardíaca da mãe e do filho, os números seriam de um atleta em corrida de alta velocidade. Deve ter pulsado muito o coração e a emoção da mãe, transbordado no aperto dos braços que tocava o seu ombro. O beijo carinhoso do Paraná no rosto da dona Maria é digno de um artista pintar como símbolo sublime do significado maior do sentimento de amor. O filho, com o fechar dos olhos nesse gesto, é pura gratidão. “Fica tranquila, mãe, que vou honrar a nossa família e a camisa do Brasil”, pensou o Paraná. “Quando fizer um gol ou ajudar o nosso País a vencer, estarei dedicando a você, minha querida mãezinha”, eram as palavras que formavam o pensamento do filho. O peso da sua maleta não era das roupas que o acompanhava, mas, sim, da responsabilidade de carregar consigo tudo o que aprendera de seus pais, Anísio e Maria. O menino simples da terra vermelha do Paraná venceu na vida e continua a ser um exemplo para o Brasil e das novas gerações. Pai de três filhos, Cintia, Cibelle e Ademir Jr, é avô de três netos. Lembrando-se da sua saudosa esposa Dulce, Paraná hoje com 80 anos de idade, mora na avenida Santa Cruz e é aposentado.

Ademir de Barros, o Paraná, faz parte da história do esporte e do futebol nacional, de suas conquistas e da trajetória que chega agora ao Qatar. Quando a Seleção Brasileira entrar no estádio na primeira rodada do Grupo G, os milhões de habitantes do Brasil, estarão torcendo frente à televisão. Paraná irá torcer pelo Brasil, se emocionar, chorar e vibrar como fazia em 1966, ao defender a Seleção na Inglaterra.

Vanderlei Testa ([email protected]) é jornalista e publicitário. Ele escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul