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Vanderlei Testa

A banca da Creusa e as bancas de jornal nos sentimentos dos leitores

As bancas de jornal, antes da era digital, tinham diariamente os seus clientes madrugando para lerem as notícias que iriam ser manchetes nas conversas da família

01 de Novembro de 2022 às 00:01
(Crédito: VANDERLEI TESTA / ARTE: VT )

A mania nacional de colecionar figurinhas da Copa do Mundo está levando milhares de pessoas às bancas de jornal. As bancas fazem parte da história cultural da cidade e dos sentimentos dos leitores. As bancas de jornal, antes da era digital, tinham diariamente os seus clientes madrugando para ler as notícias que iriam ser manchetes nas conversas da família. Com o tempo e competição dos smartphones os veículos de comunicação passaram a fazer parte da leitura 24 horas por dia dos internautas.

A banca na Praça Benedito Paes de Almeida, Vila Santa Rita, no bairro Além Linha, é administrada pela Creusa, há 39 anos. Reinaldo Camargo, Sônia Rafa e Maria Teresa Bastos consideram a Creusa uma vitoriosa em manter a mais de três décadas o seu negócio. Fui conhecer a Creusa. Ela, simpática e sorridente, contou um pouco da sua vida desde quando começou com a banca em 1983. Tinha sido demitida de uma empresa em Sorocaba e apostou na compra da banca. Creusa relatou que vendia por dia 200 exemplares do jornal Cruzeiro do Sul. Mãe da Rosângela e avó do Rodrigo, Thiago, Christian e Cristiano, além de ser bisavó da Natali. Com 71 anos de idade, levanta cedo e às 7 horas já está com a banca aberta. Filha de Cicero de Moura e Luzia Oliveira de Moura, a Creusa Maria de Moura é uma mulher fantástica que tem muitas histórias para contar todos os dias aos clientes da sua banca.

“As bancas nunca deixarão de existir porque estão nos sentimentos dos leitores”, comentou o professor de comunicação Fernando Negrão. Ele afirmou que na sua infância comparecia na banca “Oxford” perto da sua casa, para comprar gibis, figurinhas, e aos domingos -- “A Gazeta Esportiva”. O seu tio Vital era leitor assíduo desse jornal e deixava o dinheiro com ele para a compra. “Infelizmente a banca fechou, mas lembro-me dela com sentimentos de saudades”.

Rita Machado coleciona figurinhas e compra na banca de um supermercado na rua Cel. Nogueira Padilha. José Candiotto Neto é consumidor de banca na Praça Edmundo Valle. Antônio Carlos Sartorelli já teve banca em Sorocaba. Ele trabalhou com o Roque na Banca do Rosário e prestou serviços na banca do Bar da Lua e na banca do Jaime. Era como vocação familiar estar em bancas, pois os Sartorelli tinham banca na Praça Carlos de Campos. Antônio Rodrigues Brotas usa a banca do Miguel, da Praça Cel. Fernando Prestes, a mais antiga do centro da cidade. Maria de Lourdes Ribeiro contou que frequenta essa tradicional banca desde os tempos do pai do Miguel. O jornalista Pedro Guerra é cliente da banca da Vila Jardini. Fabiana Hortta Mota Cassillo prestigia a “banca do 10”, na vila Parada do Alto.

Entre as curiosidades das bancas do Além Ponte, Milton Gori relembra do “Seu Doca”. Ele estava todo domingo na feira livre, na rua Santa Maria e negociava compra e venda com revistas e gibis de segunda mão. Neide Prado da Motta diz que conheceu a barraca do “Doca” e suas revistas. Sueli Aparecida de Moura e Valter Alquati destacaram a “banca do Isquierdo” que há anos reúne colecionadores de figurinhas. José Maldonado se lembra de ir a essa banca que pertencia a Neide Lopes. A Magali Ventura diz que frequentava e mantinha até conta mensal na banca da Lúcia na Vila Progresso. Eleni Firmo Aro Rodrigues era usuária da “banca do Barão”. Izabel Faggian Belzinha gosta da “banca do Ivan” na Vila Progresso. A banca do Ivo Rocha é o encontro dos aposentados da “Praça do Truco” em frente à Avenida Ubirajara. Juvenal Santos Neto compra na “banca do Toco” no hipermercado do Sônia Maria. José Roberto dos Santos se lembra da sua infância na “banca do Moacir” e depois de adulto, passou a frequentar a “banca do Miguel” e a do Fórum, na rua Cesário Mota. Rita de Cássia Soares usa a “banca Campolim” sob a gestão do Márcio Flores e Renato Rogick.

Na cidade de São Paulo, havia 2.372 bancas de jornal em 2019 e elas estão se reinventando, segundo o jornal “Meio e Mensagem”. Hoje, além das revistas e jornais, as bancas atuam como loja de conveniência, com produtos diversos. No caso da Creusa que iniciamos este artigo, ela contou que fatura com os crochês que produz e expõe nas prateleiras. “As bancas jamais irão acabar”, finalizou a Creusa, há quase 40 anos ininterruptos de abrir a sua banca vendendo o jornal Cruzeiro do Sul.

Vanderlei Testa ([email protected]) é jornalista e publicitário. Ele escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul.