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Dom Julio Endi Akamine

Em quem votar?

Para enobrecer a política, é preciso que todos colaboremos, e uma forma muito concreta, ainda que não seja a única, é participar com responsabilidade das eleições que se aproximam

25 de Setembro de 2022 às 00:01
Dom Júlio Endi Akamine.
Dom Júlio Endi Akamine. (Crédito: Manuel Garcia / Arquivo JCS (11/7/2019))

 

Urge revalorizar a política. Ela é “uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum”. O amor pode ser praticado nas relações próximas, mas, na política, se amplia e atinge as dimensões macro das relações sociais, econômicas e internacionais. Além de se ampliar, o amor exercido como política se torna mais eficaz e duradouro em seus efeitos. É preciosa caridade cuidar de um doente. Mais ampla, eficaz e duradoura é a caridade social pela qual uma comunidade constrói e administra um hospital para atender os pobres. Uma pessoa pode ajudar outra a atravessar o rio. O político, por sua vez, constrói a ponte! Dar um prato de comida é amor concreto. Muito mais eficaz é, porém, criar postos de trabalho para que os pobres vivam com dignidade.

Para enobrecer a política, é preciso que todos colaboremos, e uma forma muito concreta, ainda que não seja a única, é participar com responsabilidade das eleições que se aproximam. Para encorajar o voto consciente e tentar estimular uma participação mais responsável na política, partilho algumas sugestões.

1. Voto consciente significa primeiramente cair na conta de que, nestas eleições, iremos escolher não somente o presidente da República, mas também o(a) governador(a) de São Paulo, deputados(as) federais e estaduais e senadores(as). Muitos esperam que o(a) presidente da República resolva tudo. Ele(a), porém, não pode tudo, nem governa de forma autocrática como acontece em uma ditadura. O(A) presidente precisa do Congresso (deputados e senadores) para governar. Também o(a) governador(a) de São Paulo precisa da Assembleia Legislativa para governar. Votar de maneira consciente significa não concentrar a atenção exclusivamente na escolha do(a) presidente e do(a) governador(a).

2. Voto consciente significa conhecer os dois sistemas de eleição. O sistema majoritário é aplicado aos cargos de presidente, governador(a) e senador(a). O sistema proporcional elege deputados(as) federais e estaduais. Nesse modelo proporcional, o voto adquire dois pesos: meu voto vai para o(a) candidato(a) escolhido(a), mas também para o partido ao qual pertence. Devido ao quociente eleitoral, nem sempre quem tem o maior número de votos é eleito(a). Por isso, voto consciente implica conhecer o programa do partido do(a) candidato(a) escolhido(a). Escolher um(a) candidato(a) a deputado(a) federal e estadual implica necessariamente dar voto ao partido dele(a). Buscar informações sobre o partido escolhido, saber se defende a vida desde a sua concepção até o seu fim natural, se tem propostas concretas de políticas públicas voltadas para a promoção dos mais pobres, se está efetivamente comprometido com a ecologia integral, se defende uma economia com sensibilidade social ajudam a ver as consequências do voto que damos.

3. Voto consciente significa escolher para o cargo político uma pessoa que não tenha se envolvido no crime de corrupção, tenha “ficha limpa”, história pessoal e familiar honesta, que seja defensora da vida integral, tenha compromisso concreto com os mais pobres, e competência para administrar recursos públicos.

4. Voto consciente consiste em fazer uma “colinha” não somente para votar de maneira correta, mas também para, depois e ao longo de todo o mandato, acompanhar a pessoa eleita. A participação nas eleições não é o final e sim o início de um acompanhamento da pessoa eleita para fiscalizar se o que foi prometido na campanha realmente é cumprido durante o exercício de mandato. É bom a gente “pregar a cola na geladeira” e periodicamente averiguar como a pessoa eleita se comporta e governa. Com o poderoso meio da internet é possível, por exemplo, obter informações sobre as despesas realizadas pelo governo federal e estadual, por meio do site “Portal da transparência”.

5. Voto consciente exige dos católicos uma formação permanente na Doutrina Social da Igreja que é um conjunto de práticas e de reflexões da Igreja no campo social. Na Doutrina Social da Igreja, o político e o eleitor podem encontrar orientações seguras e claras sobre questões sobre a pessoa humana e seus direitos, a liberdade, a igualdade, o bem comum, a solidariedade, o princípio de subsidiariedade, a justiça, a verdade, a família, o trabalho humano, o repouso, a vida econômica, o lucro, a propriedade privada e a sua função social, a comunidade política, a autoridade política, a democracia, o Estado de direito, a comunidade internacional, a ecologia integral, a promoção da paz e muitos outros temas relevantes que ajudam no amadurecimento da consciência social e política.

6. Uma última sugestão para o voto consciente é o estudo da “Cartilha de Orientação Política 2022” da CNBB (www.cnbbs2.org.br) de onde extraí a maior parte dessas sugestões.

A democracia brasileira necessita de instituições robustas e ativas, mas isso não basta. Se desejamos não somente uma democracia nominal, mas uma democracia social, que garanta a dignidade de todos os cidadãos em seus direitos fundamentais, é preciso um eleitorado consciente e responsável. Eleitores(as) conscientes reforçam a democracia.

Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba