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Celso Ming

A força da economia surpreende

É plástico que já vem misturado com papel (...); é plástico e vidro que não levam o mesmo tratamento (...); é muita embalagem que precisa ser lavada

21 de Setembro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: PIXABAY)

 

O crescimento da produção surpreendeu positivamente os analistas e o governo.

O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) calculado pelo Banco Central mostrou em julho um avanço de 1,17% sobre o mês anterior. A maioria dos analistas anteriormente consultados não esperava mais do que 0,5%. Os mais otimistas, apontavam 1,0%.

O IBC-Br é uma ferramenta estatística que permite o conhecimento antecipado do pulso da economia, com razoável índice de acerto. O levantamento definitivo é o Produto Interno Bruto (PIB), que, no entanto, sai apenas trimestralmente e, assim mesmo, com um atraso de quase dois meses. Daí, a vantagem do IBC-Br.

Essa boa surpresa se deve pouco aos efeitos da política econômica propriamente dita. Dois fatores devem ter pesado mais: o retorno ao trabalho depois da paralisação produzida pela pandemia; e o bom momento das commodities, que garantiu preços altos para as exportações de petróleo, minérios e alimentos.

Os bons resultados já vinham melhorando as projeções dos analistas para este ano. A Pesquisa Focus, do Banco Central, feita entre cerca de 100 consultores do mercado, mostrava em abril um avanço esperado do PIB no ano de 0,70%. Na semana passada, passou a ser de 2,39%.

Mas convém carregar com cuidado o santo desse andor porque há à frente certos buracos que tendem a desacelerar o ritmo do avanço do PIB.

O primeiro é a recessão que vai pintando no mercado global, em grande parte induzida pelos grandes bancos centrais, que se viram obrigados a puxar pelos juros para combater a inflação, em ritmo que não se via há anos. A segunda maior locomotiva do mundo, a China, também atravessa zona de turbulências. Boa parte de seu sistema produtivo está paralisada ou em câmera lenta pela Covid-19, que continua forte por lá. E o mercado imobiliário enfrenta forte inadimplência e quebra de construtoras. São percalços que impedirão um crescimento aos padrões anteriores de 7% a 8% ano. Se ficar em torno dos 3%, já será uma vitória.

Outro fator que poderá obrigar a economia brasileira a reduzir de terceira para segunda marcha é o impacto dos juros altos, que só a partir de agora começam a produzir efeito -- (os dados do IBC-Br são de julho). A retração do varejo, a despeito da distribuição do Auxílio Brasil, parece dar conta disso.

No mais, a economia atravessa um cinturão de incertezas: mais estragos sobre o orçamento das famílias produzidos pela inflação, deterioração das contas públicas e falta de clareza sobre a política econômica do próximo governo.

Celso Ming é comentarista de economia