Dom Julio Endi Akamine
Nas mãos e no coração
Contendo coisas novas e antigas, os dois Testamentos formam uma unidade incindível

Estamos no mês de setembro, mês dedicado à Bíblia. Tomemos consciência do que temos nas mãos!
Tens nas mãos a Bíblia. Ela é fonte que sacia a nossa sede infinita de Deus. Dela bebemos sem esgotá-la, e podemos voltar a ela todos os dias com alegria, sabendo que sua torrente não seca. Como fonte perene, sempre deixaremos mais do que podemos tomar. A minha alma tem sede de Vós, minha carne vos deseja, como terra sedenta e sem água! (Sl 62,2)
Tens em mãos os Livros Sagrados. Eles são floresta de biodiversidade infinita de significados e de densidade de sentidos. Como numa selva obscura, nela não nos adentramos sozinhos, contamos sempre com a orientação milenar da Mãe Igreja que a tem meditado, estudado, vivido e testemunhado até o sangue. Ensinai-me a viver Vossos preceitos; quero guarda-los até o fim. (Sl 118,33)
Tens em mãos a Escritura. Com a Sagrada Tradição, ela é um rio que tem sua nascente em Deus e nEle desemboca. Esse rio caudaloso é formado pela vida de inumeráveis gerações que ouviram a Palavra de Deus, a gravaram no coração, a viveram com alegria e a transmitiram com o próprio testemunho. Transborda em toda a terra o vosso amor; ensinai-me, ó Senhor, vossa vontade! (Sl 118,64)
Tens em tuas mãos o juízo de Deus. Como espada que penetra na alma, separando articulações e nervos, a Escritura julga nossas atitudes e faz a separação entre o pecado e a graça, entre o bem e o mal. Ela tira as máscaras e desnuda as aparências. Provocando uma salutar e purificadora dor, a Escritura provoca a crise, ameaça e adverte com a perdição, corrige com misericórdia e firmeza. Mostrais assim quanto sois justo na sentença, e quanto é reto o julgamento que fazeis! (Sl 51,6)
Tens nas tuas mãos as palavras que contêm a Palavra. Por isso, estás diante do oceano profundíssimo no qual a inteligência não fica bloqueada, mas no qual pode imergir com trepidação e assombro. Como oceano profundíssimo e vasto, as palavras preenchem a razão humana e a superam com suas imensas riquezas. Tão impossível como sorver o oceano inteiro, assim também é a imensidão dos mistérios presentes nestas palavras! Como anseio pelos vosso mandamento! (Sl 118,40)
Tens em mãos o Antigo e o Novo Testamento. Contendo coisas novas e antigas, os dois Testamentos formam uma unidade incindível: o Novo Testamento está oculto e prefigurado no Antigo, e o Antigo se torna claro e patente no Novo. Vossa palavra é minha herança para sempre, porque ela é que me alegra o coração! (Sl 118,111)
Tens nas tuas mãos as leituras proclamadas na liturgia. Elas são mesa abastecida com generosidade pelo divino hóspede que, depois de bater e entrar pela porta por ti aberta, serve o pão da vida eterna que é Ele próprio. Nutrido e robustecido por ele, podes ainda deleitar-te com sua doçura e delícia. Como é doce ao paladar vossa palavra, muito mais doce que o mel na minha boca! (Sl 118,103)
Tens nas mãos um tesouro. Cabe a ti recebê-lo com gratidão e, com alegria, partilhá-lo!
Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba