Vanderlei Testa
Celidônio do Monte e a descoberta do menino índio
Os cadernos "Sorocaba Ensina", que acompanharam a infância da população da cidade durante 30 anos, fazem parte desta história

Um fato curioso desta história é que fui buscar na família do artista Ettore Marangoni as lembranças da pintura dos cadernos “Sorocaba Ensina”, inspirada em um quadro em exposição no casarão do museu no parque Quinzinho de Barros. E aí veio a minha surpresa. No canto direito, como se pode ver na foto ilustrativa do artigo, está um menino índio encostado numa índia mãe. Os personagens são sorocabanos: a “índia” é a esposa do Etorre, Iria Marangoni, e o “menino índio”, o seu filho, Spencer Ettore Marangoni, um amigo da minha juventude, formado na nossa turma da Faculdade de Administração de Empresas. O cachorro na imagem é o Tupi, animal que vivia na casa do Ettore e que serviu também como modelo na histórica pintura.
Os registros comerciais de Sorocaba relatam a presença na criação dos cadernos “Sorocaba Ensina”, do saudoso Celidônio do Monte, que ocupou cargos de liderança em entidades na cidade e a vereança no legislativo da cidade em mandatos de 1963 a 1976, destacou o seu filho, Célio Hermelindo Monte. No depoimento, ele relatou que o pai nasceu nos anos 1920, na cidade de Santana de Parnaíba, terra do fundador de Sorocaba, Baltazar Fernandes. Celidônio foi aluno, na infância, da escola onde o diretor era o sorocabano Diógenes de Almeida Marins, irmão do historiador sorocabano Luizito Marins. Outra curiosidade histórica é que anos depois, o Celidônio e o professor Diógenes foram eleitos vereadores em Sorocaba na mesma legislatura.
A família do Celidônio decidiu mudar-se para Sorocaba quando ele exercia a atividade de vendedor viajante de artigos escolares. A sua atuação no mercado de livrarias abrangia uma zona imensa do Estado de São Paulo e do norte do Paraná.
Célio contou que, em 1949, a família veio para Sorocaba, morando três anos no Hotel Vicente -- na Rua Souza Pereira, em frente à praça dr. Arthur Fajardo. “Meu pai viajava visitando seus clientes nas suas regiões de trabalho e, eu e minha mãe esperávamos seu regresso neste hotel”, disse o filho. Posteriormente, meu pai comprou uma casa no Jardim Vergueiro, ao lado do antigo Casarão do Vergueiro, hoje a Faculdade de Direito (Fadi), que, naquela época, abrigava a 14ª Circunscrição do Serviço Militar.
Os cadernos “Sorocaba Ensina”, que acompanharam a infância da população da cidade durante 30 anos, fazem parte desta história. Célio Monte contou como surgiu a ideia. “Meu pai tinha como uma de suas representadas uma indústria gráfica sediada em São Paulo, produtora de cadernos escolares e artigos de papelaria”. Devido a comemoração do 3º centenário de Sorocaba, em 1954, surgiu a ideia do caderno. Naquela época, havia uma grande livraria que teve várias razões sociais. O saudoso Antonio (Toninho) Gâmbaro, era o gerente geral da então firma Espólio Manuel Gutierres Ltda., com o nome fantasia de Livraria Papelaria e Tipografia Gutierrez. Toninho Gâmbaro junto com o saudoso José Rodrigues, gerente de varejo, e o José Serto, gerente do setor tipográfico, decidiram lançar uma linha de produtos homenageando o terceiro centenário da Manchester Paulista. Celidônio do Monte foi consultado para participar do projeto inicial da criação dos materiais. Os cadernos “Sorocaba Ensina” seriam lançados no formato brochura, com 48 e 96 folhas, com opções para caligrafia, desenho e linguagem. Eles seriam ilustrados com capas ostentando cenas da fundação da cidade pintadas pelo artista plástico Ettore Marangoni e impressas a quatro cores. O projeto vislumbrava um produto sazonal, que após as comemorações dos 300 anos de Sorocaba sairia de produção.
O fator sucesso do lançamento e aceitação destes cadernos pelos alunos das escolas de Sorocaba foi tão grande, que dos anos 50 até os anos 80, a demanda de vendas comprovou que nenhum aluno de curso primário da cidade tenha ficado sem usar algum dos itens “Sorocaba Ensina”. Célio destaca que o seu pai participou do lançamento até o final da história da vida deste produto.
Celidônio do Monte nasceu em 15 de junho de 1918. Ele era filho de José Fermino do Monte e Hermelinda do Monte. O seu trabalho comunitário na cidade deixou marcas de desenvolvimento. Ele foi um guerreiro das causas sociais. Foi presidente da Associação Esportiva Cometas, Associação e Pecúlio 1º de outubro, com atividades para os representantes comerciais e suas famílias. Presidente do orfanato Humberto de Campos e membro da loja Brasil III. Após o seu falecimento, em sua homenagem, a Câmara Municipal denominou de Alameda Celidônio do Monte uma das ruas do Jardim das Magnólias.
Vanderlei Testa ([email protected]) é jornalista e publicitário, escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul